MÁRIO CHAMIE
( 1933 )
O REI
Era um rei
que vinha
com mastros e bandeiras.
Era um rei oposto,
desses que trazem
a coroa
do lado do desgosto,
contra a força
do seu povo.
Não era um joão sem terra.
Era um rei sorrateiro
que pisa no reino
e quer o terreno
de todo o terreiro.
Sem porteira
vinha para ser dono.
Era um rei do mando
que desmandava
entre o mastro e a bandeira
do alto do seu trono.
Era um rei do mando.
Era um rei do engano.
Pôs o espanto
no rosto do seu povo
e o desgosto
no lado oposto do seu mando.
Era um rei deposto.
(de “A Quinta Parede”)
Afirmou-se como teórico do grupo da poesia “praxis”, que, contrariamente ao Concretismo, se opõe a todos os movimentos literários a partir do Modernismo, utilizando a sua técnica de composição para denunciar aspectos sociais. O manifesto inaugural do movimento publica-se em “Lavra lavra” (1962). Seguem-se, entre outros, os livros “Indústria” (1967), “Objecto Selvagem” (1977) e “A Quinta Parede” (1986).