POESIA AO AMANHECER – 461- por Manuel Simões

 

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CARLOS NEJAR

( 1939 )

 

DISCURSO DO MÉTODO OU A ARTE DE

FALAR COM OS POEMAS

 

Domingos Sileno conversava com os poemas

e eles respondiam. E íntimos falavam.

Como pássaros em laranjas ou laranjas

em pássaros. E se intercomunicavam,

vasos de milênios.

 

Domingos depois os embalava e os poemas

dormiam. E sonhando, se acordava junto

a eles. Suas palavras adormecidas brilham.

Vez e outra, os poemas sonharam. Como

nestes versos, em que o descrevo.

 

E os poemas se tornam pensamentos, cercados

de andorinhas. Os poemas voltarão a si

mesmos e serão intermináveis.

 

Então Domingos e eles se entenderão,

falando pelos olhos, enquanto

a boca está ouvindo gorjear

a eternidade.

 

(de “Os Viventes”)

 

Um dos grandes nomes da poesia brasileira, sendo também novelista e crítico. Da sua extensa obra poética, cabe mencionar: “Sélesis” (1960), “Danações” (1969), “Ordenações” (1971), “Árvore do Mundo” (1977), “Os Viventes” (1979), “Amar, a mais alta constelação” (1991), “Os Dias pelos Dias” (1997), “Os melhores poemas de Carlos Nejar” (1998).

 

 

 

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