EDITORIAL – A MONARQUIA, AQUI AO LADO.

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Ontem, em Madrid foi proclamado o novo rei. Para muita gente trata-se de uma boa notícia. O El País, no seu editorial de ontem, na parte dedicada à tomada de posse, refere-se ao rei cessante como tendo sido o autor da melhor decisão tomada em Espanha ao longo de muito tempo, a de renunciar aos seus plenos poderes para impulsionar uma democracia constitucional. Dá por terminada uma etapa, continua o editorial, que fica para a história por ter terminado com as convulsões vividas durante uma grande parte do século XX e por ter registado um considerável desenvolvimento económico, social e político, para além de ter facilitado a integração da Espanha na Europa.

Há que referir algumas questões. Juan Carlos não tomou decisões sozinho. Foi influenciado e apoiado por muita gente, incluindo muitos altos responsáveis durante o franquismo, alguns dos quais continuaram a exercer posições preponderantes no novo regime. A transição foi tida como necessária pelos sectores conservadores, para tentar ultrapassar os graves conflitos que abalavam o país, que a ditadura resolvia pela força, contribuindo grandemente para o seu isolamento, não só em relação à Europa, como também ao resto do mundo. Não ocorreu sem sobressaltos como o de 23 de Fevereiro de 1981, e não se pode dizer que os conflitos tenham sido resolvidos. Juan Carlos foi impelido a tomar decisões, para evitar que as alterações ocorressem de outra maneira. O caso português esteve com certeza muito presente quando foram pensadas as alterações a introduzir no reino espanhol. Entretanto, o reino espanhol continuou a integrar várias nações, que manifestam regularmente o seu descontentamento, tomando cada vez mais força os que pretendem a independência pura e simples. E a chamada crise financeira iniciada em 2008 pôs a nu a fragilidade do desenvolvimento que se diz ter ocorrido, até porque as melhorias obtidas para a vida das pessoas são agora responsabilizadas como serem a causa principal dos problemas ocorridos, apesar de todos os esforços para dar a conhecer a verdade das coisas.

Convém recordar que periodicamente aparece quem gabe as virtudes do sistema monárquico. Que garante uma maior estabilidade na governação, que até implica menos encargos na governação, etc. Basta examinar mais de perto as monarquias existentes para constatar o pouco valor desses argumentos. As monarquias dão muita visibilidade, sobretudo junto da imprensa cor de rosa, mas daí não advêm vantagens significativas para as suas populações. Nalguns países, como os nórdicos, a manutenção da monarquia deriva sobretudo da necessidade sentida pelos seus povos de não conhecerem grandes alterações no regime político que os governa, até por razões exteriores, derivadas da proximidade que têm a zonas potencialmente sujeitas a conflitos de nível mundial. A boa atitude das pessoas que têm desempenhado os papéis de rei ou rainha, e a prosperidade que tem reinado nesses países também têm ajudado bastante com certeza. No reino espanhol, a monarquia tem servido para manter as tensões existentes sob controlo, não para as ultrapassar.

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