Eterno
Eternos não somos nós
Eterno é o cinema, o espaço
De um filme de Dábliu Uáiler
Em que o jovem Djim Maquêi
Que é bravo sem ser bravio
Encarna a dignidade
E a mais teimosa coragem
De ser somente ele mesmo;
Eterno é o poeta sujo:
Carlitos nasceu eterno
Na muda e dançante imagem;
E os outros, todos os outros
Do ingênuo Capra ao Fellini
Do Bergman ao Woody Allen
Ao mágico Joaquim Pedro
E todos – mulheres, homens
Dessa arte que é puro tempo
Os bons e todos os bês
Tudo o que capta o frio
Celulóide da magia
Pra sempre estará gravado
No arquivo da eternidade
E os preto-e-branco dos trinta
E dos quarenta, os românticos
Continuarão, teimosos
Na TV da madrugada
A alimentar a saudade
De um mundo anterior ao medo
Da guerra, do caos, da fome
Do apocalipse e da nau
Do mundo do iúpi, agora..
…Mais o que eu só imagino
E o resto, que não verei.
in Mulheres (in)Versos, Massao Ohno, São Paulo, 1990
Ilustração – quadro de Dorindo Carvalho