ETERNO, poema de Rachel Gutiérrez

 Imagem8

       

Eterno

 

Eternos não somos nós

Eterno é o cinema, o espaço

De um filme de Dábliu Uáiler

Em que o jovem Djim Maquêi

Que é bravo sem ser bravio

Encarna a dignidade

E a mais teimosa coragem

De ser somente ele mesmo;

Eterno é o poeta sujo:

Carlitos nasceu eterno

Na muda e dançante imagem;

E os outros, todos os outros

Do ingênuo Capra ao Fellini

Do Bergman ao Woody Allen

Ao mágico Joaquim Pedro

E todos – mulheres, homens

Dessa arte que é puro tempo

Os bons e todos os bês

Tudo o que capta o frio

Celulóide da magia

Pra sempre estará gravado

No arquivo da eternidade

E  os preto-e-branco dos trinta

E dos quarenta, os românticos

Continuarão, teimosos

Na TV da madrugada

A alimentar a saudade

De um mundo anterior ao medo

Da guerra, do caos, da fome

Do apocalipse e da nau

Do mundo do iúpi, agora..

…Mais o que eu só imagino

E o resto, que não verei.

 

in Mulheres (in)Versos, Massao Ohno, São Paulo, 1990

Ilustração – quadro de Dorindo Carvalho

Leave a Reply