Manuel Ribeiro de Pavia, pintor português, nasceu em Pavia, concelho de Mora, no dia 19 de Março de 1907 e morreu em Lisboa também a 19 de Março, mas de 1957. Particularmente famoso pelas ilustrações concebidas para obras de escritores neo-realistas, amigos, foi talvez o mais brilhante artista plástico do movimento. Porém, quem não se submetesse aos ditames do regime tinha dificuldade em sobreviver. Manuel foi um dos valores sufocados pela hidra salazarista. A existência de homens honrados como Ribeiro de Pavia,homens para quem o ser vem primeiro doque oter,eram, no entanto, sinais de esperança num futuro diferente.
O Alentejo, região mais martirizada durante o meio século da ditadura salazarista, foi o protagonista dos seus trabalhos, principalmente desenhos e aguarelas. A beleza das suas ceifeiras e mondadeiras não impedia a violência com que denunciava a injustiça social. Participou em quase todas as Exposições Gerais de Artes Plásticas. Na segunda, realizada em 1947, algumas das suas obras expostas foram apreendidas pela polícia política. O regime salazarista não dava tréguas aos seus opositores. Para se lutar contra a ditadura ou se era rico ou se morria de fome. Manuel Ribeiro de Pavia era antifascista e pobre.
Passadas estas quase seis décadas sobre a sua morte, custa a acreditar como podia um regime estúpido, saído da mente tacanha de um déspota, causar tais danos ao desenvolvimento cultural do nosso povo. Não podemos sequer imaginar o que Manuel Ribeiro de Pavia nos poderia ter legado se lhe tivessem sido facultados meios mínimos que lhe permitissem trabalhar, criando as suas maravilhosas obras, e sobreviver com a dignidade e o conforto a que todos os seres humanos têm direito- – “Nunca tendo podido realizar sonhos de pintor mural, dentro dos esquemas estéticos do neo-realismo, em que ideologicamente se enquadrava, Pavia deixou larga obra dispersa de guaches a desenhos”, disse José Augusto França. Homem de princípios, de uma elevada moralidade, soçobrou, vergado pela miséria.
Morreu no dia em que completava 50 anos. O poeta Eugénio de Andrade, um dos seus amigos, no seu livro Os Afluentes do Silêncio, diz sobre Ribeiro de Pavia: Esta morte, assim sem mais nem menos, que um amigo me comunica, entala-se-me na garganta. Morreu o Manuel Ribeiro de Pavia. Levou-o uma pneumonia que o foi encontrar depauperado por uma vida quase de miséria. Passava fome! Tinha uma única camisa! Não pagava o quarto há imenso tempo! E nós a falarmos-lhe de poesia…» Assim é: passava realmente fome. Todos nós o sabíamos. E ele a falar-nos de pintura, de poesia, da dignificação da vida. É justamente nisto que residia a sua grandeza. Não falava da sua fome – de que, feitas bem as contas, veio a morrer. A fome não consta de nenhum epitáfio…