SÃO PAULO – MOVIMENTO PASSE LIVRE – NOTA PÚBLICA – POSICIONAMENTO NAS DISCUSSÕES DE GÉNERO E NA LUTA CONTRA O MACHISMO

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Posicionamento do MPL-SP nas discussões de gênero e na luta contra o machismo

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Diante de inúmeras denúncias de agressões machistas em movimentos sociais e das diferentes repercussões e posicionamentos adotados nos debates de gênero, o Movimento Passe Livre São Paulo vem mais uma vez reafirmar seus Princípios e posicionamentos, derivados do acúmulo de discussões de seus espaços mistos e auto-organizados.

Como explicitado em uma de nossas cartas sobre o tema (que você pode ler aqui), entendemos que a discussão de gênero é um processo dinâmico e constante na busca pela horizontalidade no cotidiano de nossa luta: a auto-crítica e a revisão de nossas posições é parte fundamental para o avanço desse processo. Porém, acreditamos que o avanço das discussões e seu caráter dinâmico não deva ser instrumentalizado para retroceder em consensos mínimos sobre o que é ser um movimento horizontal que se posiciona contra todas as formas de opressão, inclusive o machismo (princípios fundamentais do movimento desde sua fundação, como você pode ler aqui.

Um elemento fundamental nas nossas discussões é a compreensão de que os movimentos sociais e demais organizações políticas de esquerda não estão automaticamente ou magicamente imunes às inúmeras formas de opressão presentes em nossa sociedade: a desconstrução de todos os preconceitos e imposições sociais estabelecidos pelo capitalismo e para além dele é um processo cotidiano e que deve passar pela politização das nossas relações pessoais e posturas militantes, rompendo com a hipocrisia daqueles que reafirmam a velha e empoeirada cisão entre o que é público e o que é privado, o que é social e o que é doméstico.

Em uma conjuntura de ataques sistemáticos ao movimento negro, mulheres, homossexuais e às religiões afro, considerar que a luta de classes deve prescindir das discussões de opressão é ingênuo, senão perverso. A nossa luta contra as catracas e contra o capital não deve silenciar outras lutas, mas sim empoderá-las, pois se há racismo, machismo, homofobia ou qualquer forma de discriminação, não é a nossa revolução! A partir dessa compreensão, acreditamos que as práticas para a busca de igualdade entre mulheres e homens, desconstruindo o machismo em nossa luta, passa por posturas elementares: em um caso de agressão, quem deve ter voz e apoio é a pessoa agredida: dar voz a quem cometeu a agressão com o intuito de deslegitimar a denúncia feita reitera a agressão sofrida; é pressupor uma igualdade que não existe de fato.

Afirmar que a vitima não pode denunciar é fazer coro aquelxs que dizem que “em briga de marido e mulher, não se mete acolher”. Repudiamos as recorrentes tentativas de mascarar uma relação de poder dada estruturalmente pelo machismo através de justificativas situacionais que retiram a agressão do seu contexto político e a jogam para uma questão pessoal, culpabilizando a própria vítima. Respeitamos e praticamos a existência de espaços auto-organizados em nosso movimento, entendendo-os como uma das formas essenciais de empoderar as mulheres e construir a horizontalidade entre os militantes nos espaços mistos. Entendemos também que a existência destes espaços não deva passar pela ‘solicitação, ‘autorização’ ou ‘aprovação’ de quem não vive o lado mais fragilizado da opressão de gênero cotidianamente. Entendemos que a auto-organização não é uma cisão, e que não retira a discussão de gênero do espaço misto, mas a fortalece.

Não acreditamos no punitivismo estatal, como lógica para a desconstrução das opressões, pois se acreditamos na transformação de uma sociedade conservadora, acreditamos na transformação das pessoas que participam dela. Porém há um elemento fundamental para a transformação, que é o reconhecimento de condição social privilegiada e disposição para debater abertamente a questão, e não silenciá-la. Diante desta afirmação de nossos debates e convicções, convidamos publicamente à reflexão àquelxs que fazem parte da nossa luta e que tem desacordos sistemáticos com esses princípios. As lutas não estão desvinculadas.

Uma sociedade sem catracas,também é uma sociedade sem machismo.

Esta carta foi escrita por mulheres e homens que lutam por uma vida sem catracas.

Que não sobre nenhuma delas.

MPL -SP – JUNHO/2015

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