A eleição de Ferro Rodrigues como presidente da assembleia da república pôs a direita, em minoria desde 4 de Outubro, a protestar indignamente, alegando que essa eleição teria ido contra uma tradição da casa, de o presidente sair das fileiras do partido mais votado. Pedimos desculpa se não reproduzimos perfeitamente os termos do tal protesto, que foi exprimido, salvo erro, pelo líder da bancada do PSD, Luís Montenegro. É que houve discussão considerável à volta do assunto na comunicação social, tendo havido mesmo quem invocasse que já anteriormente teriam havido presidentes da AR que pertenciam a forças políticas minoritárias, quem dissesse que sim, mas não terá sido bem assim, e quem negasse. No fim deste editorial colocámos alguns links que permitem aceder a textos com posições diversas sobre o assunto.
O importante é reparar que as opiniões sobre os factos variam conforme a posição do autor respectivo no espectro político. E é mais que claro que os partidos do lado direito apostam na sua estratégia de sempre: puxar o PS para eles. Como sempre vale tudo. Antes acusavam-no de indefinição, chegando quase a gabar o PC e o BE pelas suas posturas políticas. Frases do tipo “eles ao menos são claros”, “definem-se”, etc. ouviam-se aos mais variados níveis. Agora, “tornou-se num partido esquerdista”, é uma frase suave comparada com outras empregadas regularmente nas declarações de comentadores e políticos do clube Passos/Portas/Cavaco. Sobre as duas forças políticas da chamada “extrema-esquerda”, voltaram à arena do espectáculo as velhas classificações: estalinista, trotskista, maoísta, vale tudo igualmente. Até a Albânia. O Enver Hoxja (é assim que vem escrito na Wikipedia) tem andado discreto mas deve estar a reaparecer a toda a força, pois os especialistas da troika (eles são três, Passos/Portas/Cavaco) não o vão esquecer. Permitam o desabafo: o emprego destes qualificativos só deveria ser permitido a quem demonstrasse conhecer minimamente os seus historial e significado.
Infelizmente, para o BE e PCP, mas sobretudo para o povo português, o desenlace deste enredo está a ser tecido por umas cabeças (as de sempre!) que andam ali pelo Largo do Rato, com umas ajudas do clube dos três. Quase de certeza que o programa do governo já empossado vai incluir algumas medidas que iam na carta do Costa. Quais serão é que ainda não se sabe.
http://observador.pt/2015/11/01/quando-o-cds-presidiu-a-assembleia-da-republica/