Apagar, ausentar, desaparecer. É em torno do conceito de apagamento que se constrói Erasure. Pedro Manuel cria um dispositivo onde fotografa uma série de imagens que compõe no momento, para, de seguida, projectá-las numa tela, e voltar a fotografá-las. No entanto, ao captar as imagens uma segunda vez, a intensidade do flash sobrepõe-se à luz da projeção. As imagens desaparecem com o clarão. Paradoxalmente, o ato de registo torna-se um ato de apagamento.
A percepção da imagem é deslocada da superfície dos olhos para a memória. Cada imagem da tela em branco corresponde a uma imagem apagada e, ao passar por cada uma dessas fotografias, passa-se também em revista a sequência das imagens que estavam a ser projectadas. Em retrospectiva, a imagem continua lá, como um fantasma ou um souvenir. A ausência material da imagem inscreve-se na memória do público como uma presença, como um rasto fotográfico.
Com Erasure, Pedro Manuel encontra um modo de formular a sua relação entre teoria e prática através da expressãoplay-essay, um tipo de espectáculo que ensaia conceitos através do jogo e do teatro.
