No contexto do século XVIII a palavra estrangeirado tinha uma conotação negativa. Num país fechado e atrasado como o nosso, vivendo sob o controlo apertado e ameaçador da Inquisição, tudo o que viesse de fora, de além Pirinéus, era visto com desconfiança e medíocre sobranceria.
Esta atitude repercutia-se sobre a forma de ver e avaliar os portugueses que tinham estudado e/ ou vivido no estrangeiro ou que tinham para lá fugido das perseguições do Tribunal do Santo Ofício.
Médicos portugueses admirados na Europa
Entre estes é justo citar dois nomes, os dois médicos de origem judaica que caíram nas malhas da Inquisição e viram-se obrigados a deixar o país.
Jacob de Castro Sarmento que viveu em Londres e António Ribeiro Sanches que viajou por França, Itália e Rússia tendo sido contratado como médico de Catarina, a Grande e da sua corte.
O Pe. Verney e “O Verdadeiro Método de Estudar”
Viajante em busca de novas ideias por essa Europa fora, enviado e protegido pelo rei D. João V, o Pe. Luís António Verney chegou a Itália com apenas 23 anos e a missão de analisar novos métodos de ensino que pudessem vir a ser adoptados em Portugal.
Escreveu “O Verdadeiro Método de Estudar” que é apresentado como um conjunto de dezasseis cartas, cada qual com o seu tema. A sua tese principal é que “os homens nascem todos livres e todos são igualmente nobres.”
Curiosa e vanguardista para a época é a defesa da escolarização das mulheres. Fá-lo com base em dois argumentos. Por um lado, a defesa dos interesses das crianças que só têm a ganhar se tiverem mães instruídas, pois “elas é que são as nossas mestras nos primeiros anos da nossa vida.” Por outro, o interesse dos maridos “que não fazem gosto de conversar com as suas mulheres e, se vão a outras partes procurar divertimentos pouco inocentes, é porque as acham tolas no trato.
Repare-se que a defesa do ensino para a mulher não é feita em função dela, mas em função dos outros: os filhos, os maridos. Seja como for, representa um passo em frente no caminho da emancipação da Mulher que decorre da convicção de que homens e mulheres têm as mesmas capacidades intelectuais.