CARTA DO RIO 94 por Rachel Gutiérrez

 

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As manifestações deste domingo, 13 de março, deram ao país um novo sentido e talvez um novo rumo. Tivemos um espetáculo de civismo e maturidade política para coroar os mega protestos iniciados em março de 2015.  O maior de todos: um estrondoso Basta! ao desastrado governo de Dilma Rousseff.

Que me perdoe um dos nossos “deuses” da poesia, o imenso Drummond, esta pequena paráfrase:

E agora, ó Dilma?

sua festa acabou,

o povo falou:

disse – Chega! vá embora!

E agora, ó Dilma?

e agora, você?

você que é sozinha,

que não tem apoio,

você que não ouve,

que teima, resiste,

e agora, ó Dilma?

No último protesto, Brasília havia registrado a presença de cerca de 45 mil pessoas,  agora, de acordo com a Polícia Militar,  calculam-se 100 mil manifestantes. No Rio de Janeiro, um milhão na Avenida Atlântica de Copacabana! Em grandes capitais, em médias capitais, e mesmo em cidades do interior, em todo o Brasil de norte a sul, em 25 estados, o povo foi à rua para, sem conflitos, sem qualquer violência, dizer um rotundo Não! ao Pt, a Lula, à Dilma, e principalmente à corrupção endêmica  revelada pela operação Lava Jato, que tanto nos envergonha. No gramado da esplanada dos ministérios de Brasília, imensas faixas desenhavam as palavras: S O M O S  M O R O  formando um grande T, em apoio e homenagem ao Juiz de Curitiba, que dirige a operação das nossas “mãos limpas”.

Ora, sabemos muito bem que não é só no PT que há corruptos, mas a manifestação de hoje foi especificamente contra o governo de Dilma e contra os últimos anos de domínio do PT.

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Cartazes diziam “Abaixo a clePTocracia”, “Quero meu país de volta”, “Fora Corrupção”; muitos Fora Dilma, Fora PT e Fora Lula; minha irmã, de 83 anos, levou um cartaz onde se lia: POR UM BRASIL QUE NOS ORGULHE. E incontáveis bonecos de borracha com a efígie de Lula vestido de presidiário, sempre com dois números no uniforme: 13 e 171, referentes respectivamente ao número do Partido dos Trabalhadores e ao Artigo do Código Penal que qualifica o estelionato. Em Maceió, uma imensa cobra com pele em preto e branco, também “vestida” de presidiária, fazia uma clara alusão à comparação que Lula fizera de si mesmo com uma “jararaca”, em discurso para todo o país, após ter sido levado a depor no Aeroporto de Congonhas, na sexta-feira 4 de março. Lula, então, convocou a mídia e disse, entre outras coisas, que haviam batido no rabo da jararaca, mas que não lhe haviam atingido a cabeça, fazendo-se mais uma vez de vítima e incitando a militância do PT a reagir em sua defesa, por se achar perseguido e injustiçado, logo ele que já se jactou de ser a “alma mais honesta do Brasil”, além de afirmar que foi “o melhor presidente” que este país teve em toda a sua história.

 E tristemente anedótico tornou-se o vídeo filmado momentos antes pela deputada federal Jandira Feghali, do PCdo B ( Partido Comunista do Brasil). Enquanto ela afirma, em close, que o ex-presidente estava tranquilo e falava ao telefone com a presidente Dilma, vê-se e ouve-se, ao fundo, o baixo calão da linguagem de Lula ao se referir ao processo da Justiça Federal, falando realmente ao telefone, com a atual presidente.  Foi muito pouca sorte a da deputada tão fiel ao antigo líder. E uma festa para as redes sociais que se encarregaram de reproduzir o vídeo ao infinito.

A presidente Dilma, que levou 7 dias para visitar a região de Mariana e as  vítimas do maior crime ecológico da nossa história, não hesitou em voar pra São Paulo,  no mesmo dia em que Lula foi chamado a depor, utilizando avião, helicóptero e carros do governo para dar apoio ao seu antecessor e mentor. Além disso, no dia seguinte, ofereceu-lhe um ministério, artimanha inescrupulosa para blindá-lo contra a Polícia Federal e garantir-lhe a proteção do foro privilegiado.

O ex-presidente se encontra, porém, numa situação limite. Se aceitar ser blindado, além de deixar desprotegidos a ex-primeira dama e o filho mais velho, acusados junto com ele, “assina” uma confissão de culpa.

Mais fatos se precipitaram: na quinta-feira, dia 11, o Ministério Público de São Paulo denunciou Lula por ocultação de patrimônio e falsidade ideológica. Logo a seguir, no mesmo dia, foi decretada a prisão preventiva do ex-presidente. Mas isso vai ser acatado, ou não, pela Justiça do Estado, o que pode demorar. No entanto, outra investigação foi logo anunciada pela Justiça Federal de Curitiba: a que procura esclarecer o estranho acervo das obras de arte presenteadas, oficialmente, por estadistas estrangeiros ao ex-presidente, que foram descobertas num cofre de uma agência do Banco do Brasil. Entre tais obras, encontra-se um Cristo Crucificado, do Aleijadinho de valor inestimável. Não há o que comentar.

Podemos apenas recorrer aos versos, desta vez originais, do José de Carlos Drummond de Andrade:

Sozinho no escuro

qual bicho- do- mato,

sem teogonia,

sem parede nua

para se encostar,

sem cavalo preto

que fuja a galope,

você marcha, José!

José, para onde?

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