O DRAMA DOS MIGRANTES NUMA EUROPA EM DECLÍNIO E CAPTURADA POR ERDOGAN E OBAMA – 15. OS MORTOS DE GHOUTA PELO GÁS SARIN. 1. A POSIÇÃO DE MICHEL PINTON – ANTIGO DEPUTADO NO PARLAMENTO EUROPEU – pelo COMITÉ VALMY.

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Selecção e tradução por Júlio Marques Mota

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Os mortos de  Ghouta pelo gás Sarin

 1. A posição de Michel Pinton – antigo deputado no Parlamento europeu

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Comité Valmy, Les Morts de la Ghouta – par Michel Pinton, Ancien député au Parlement européen

21 de Fevereiro de 2016
Ghouta - I

Carla del Ponte, membro  da Comissão de Inquérito sobre a Síria  dependente  do Conselho dos Direitos do Homem  na ONU:   há testemunhos segundo os quais  os rebeldes  utilizaram armas químicas .

Os mortos de   Ghouta

Os factos a que me vou referir  aqui, não são antigos. Estes factos deram-se  há pouco mais de dois  anos. Mas, depois de terem constituído grandes títulos na imprensa, caíram num poço de silêncio e de esquecimento. Relembremo-los um  pouco mais.

Em Junho de 2013, o nosso governo, ajustando o passo com o de  Washington e Londres, emite um aviso sério contra Bachar El Assad. Informa o Presidente sírio de forma  solene  que a contenção  (1) que a França impôs a si mesma desde o início da guerra civil, não é intangível. Se “o ditador sírio” resolver  reprimir  o levantamento popular pelo emprego de armas químicas, “uma linha vermelha” estará a ser ultrapassada.  Em represália, os nossos aviões  Rafale  bombardearão as bases e os depósitos do seu exército, o que conduzirá ao seu rápido desmoronamento.

Dois meses depois,  a  21 de agosto de 2013, os meios de comunicação social anunciam que Ghouta, um bairro nos arredores de Damasco na mão dos insurrectos, acaba de ser atacado com o  gás sarin. Contam-se, de acordo com as fontes de informação, de 280 a 1720 vítimas, quase todas civis.

Comentários horrorizados enchem as páginas dos jornais parisienses. A opinião geral dos editorialistas, dos universitários e dos porta-vozes  de partidos é que “o carniceiro  de Damasco” quis insultar a consciência universal. A sua provocação é insuportável. Num apelo retumbante, a direcção  do jornal “Le Monde” reclama uma resposta armada. François Hollande dá  imediatamente a saber  a sua determinação: convoca os nossos chefes militares para o Eliseu, aprova o plano de bombardeamentos que estes estabeleceram e ordena aos pilotos dos aviões  Rafale  que estejam  prontos para voar para a Síria em coordenação com os aviões dos nossos aliados.

Mas a expedição não chega a descolar. Os deputados britânicos, que não esqueceram que Tony Blair lhes tinha descaradamente mentido dez anos antes para lhes arrancar  a autorização de invadir o Iraque, tiveram a sensação de que isto lhes cheirava a manipulação e recusam a participação inglesa. Barack Obama é ambíguo. O papa François, que sabe bem mais do  que o que pode dizer, opõe-se ao ataque ocidental com vigor. Finalmente os Americanos renunciam à guerra. A Holanda e Fabius ficam isolados. Não podendo já infligir a Bachar El Assad a punição prometida, multiplicam contra ele as condenações de ordem moral  e as sanções políticas.

Porque recordar este episódio? Porque a Organização para a proibição das armas químicas (OPCW), instância internacional que agrupa a quase totalidade dos Estados do mundo, acaba de concluir  o seu relatório oficial sobre o massacre de Ghouta. É o fruto de dois anos de trabalho. Os peritos do OPCW analisaram a natureza de gás que matou tantos inocentes, nomeadamente por recolha de amostras retirada os dos corpos das vítimas. A sua conclusão é formal: a composição deste gás é diferente da que se encontra nos stocks  do exército sírio. Bachar El Assad  está  inocente do crime de que  estava a ser acusado.

O relatório não se fica nesta sua afirmação. Assume também uma outra posição. Os relatores interessaram-se sobre as armas químicas que o coronel Kadhafi outrora tinha  fabricado e armazenado no deserto líbio. Uma importante parte destes stocks, depois da sua morte, foram vendidos a “grupos anti Assad”, transportados  em barco para portos turcos seguidamente encaminhados por  estrada até aos feudos rebeldes da Síria. A composição do sarin líbio é a mesma que a do sarin lançado sobre Ghouta.

Eis os nossos líderes apanhados em contra pé. Não somente se enganaram  sobre a identidade dos culpados mas estão numa posição moralmente insuportável. Se realmente a utilização de armas químicas contra civis é  um crime contra a humanidade  então aquele que na verdade se  torna responsável ultrapassa a linha vermelha da punição, que espera o nosso governo para punir os rebeldes  sírios? Não agravaram eles a sua responsabilidade envenenando uma população que estava sob a sua autoridade com o cínico objectivo  de nos arrastar para combatermos aos seus lados?

Mas o nosso governo parece não estar ao  corrente de nada. François Hollande  e Fabius continuam a reconhecer os chefes dos insurrectos como os únicos representantes legítimos do povo sírio; recebem-nos  cordialmente em  Paris e prodigalizam-lhes um apoio sem falha. Talvez andem demasiado ocupados para terem tempo de ler o relatório do OPCW; talvez considerem que não têm tempo a perder num negócio quase esquecido; talvez julguem inútil ler este documento porque não lhes ensina nada: sabem-no desde  o início. Em qualquer hipótese, é claro que, para eles, a verdade e a justiça não têm lugar na política estrangeira da França.

A opinião pública do  nosso país, permanece na ignorância do que realmente se passou em  Ghouta, em Agosto de 2013. Os editorialistas que apelam à  guerra contra Assad, protegem-se bem não publicando nenhuma  informação sobre os resultados da investigação internacional. Assim protegidos, as acusações dos nossos líderes, tornadas mentiras de Estado,  continuam a prosperar. Tanto pior para a democracia.

Michel Pinton
Ancien député au Parlement européen
Mise en ligne CV: 9 février 2016

(1) Note du Comité Valmy: en réalité, il n’y a jamais eu de retenue envers la Syrie souveraine, de la part des fes fondés de pouvoir français de l’euro dictature occidentaliste. François Hollande et Laurent Fabius ont dès le début, comme leurs prédécesseurs, participé à l’agression de l’Etat nation et du peuple syrien patriote. Dès 2012, ils ont livré des armes aux takfiristes syriens considérés comme des rebelles modérés.
François Hollande a confirmé que la France a livré des armes offensives létales aux rebelles syriens en 2012 – 20 Minutes avec AFP

Michel Pinton, antigo deputado europeu, Les Morts de la Ghouta , texto disponível  em: http://www.comite-valmy.org/spip.php?article6837

http://www.comite-valmy.org/spip.php?article6837

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