A vida portuguesa (não apenas a vida política) dos últimos dias foi submersa (garante-se que o termo não foi inspirado por nenhum furacão, como o que devastou o Haiti) pela eleição de António Guterres como secretário-geral da ONU. Assuntos graves, como o recuo do governo no caso do diploma sobre o levantamento do sigilo bancário para os depósitos bancários superiores a 50 mil euros, face ao desacordo do presidente da república, ficaram entretanto na penumbra. Será que houve algum acordo secreto entre as partes sobre este assunto? Marcelo Rebelo de Sousa tem-se recusado a hostilizar o governo, será que essa postura se vai manter? A questão da subida do IMI para os prédios de valor superior a 500 mil euros (valor matricial ou de mercado? acima de 500 mil ou de um milhão de euros ?) parece assim tornar-se ainda mais importante, no claro confronto que se aviva entre a esquerda e a direita (transversal mesmo aos vários partidos), à roda do orçamento de estado para 2017, que o governo Costa tem de apresentar à Assembleia da República até à próxima sexta-feira, 14 de Outubro (clicar no terceiro link abaixo).
Sobre a eleição de António Guterres, Marcelo Rebelo de Sousa, amigo de há muitos anos, tem colocado a fasquia alta. Em frases como “As Nações Unidas têm agora uma oportunidade única para se repensarem, para se reverem, para se reformarem ao serviço da comunidade internacional” e “É, por todas estas razões, um momento histórico para Portugal” (clicar no quarto link abaixo), há claramente um grande empolamento da situação. Para o próprio António Guterres não será vantajoso, por qualquer prisma, ver colocados sobre os seus ombros a enorme responsabilidade de reformar uma organização onde teoricamente manda a Assembleia Geral, não o secretário-geral, e existe um Conselho de Segurança, que inclui potências com direito a veto, e é que na realidade quem decide. E para Portugal é sem dúvida uma honra um dos seus filhos ser considerado apto, praticamente por unanimidade, para exercer um lugar de tanta responsabilidade, pesem embora as graves limitações que a ONU tem revelado na sua actuação. No campo prático é duvidoso que daí resulte alguma vantagem para o nosso país, mesmo modesta. Os problemas da dívida e do crescimento económico, que tanto o afectam, correm por outras instâncias. E é duvidoso que em casos como o da central nuclear de Almaraz, que, a partir do reino vizinho, constitui uma ameaça significativa para o nosso país, o novo secretário-geral possa exercer alguma influência.
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