O TEATRO: MORRER E NASCER TODAS AS NOITES, por RUI MENDES

 

O teatro: morrer e nascer todas as noites

 

Teatro é paixão. Se não, não é teatro. Teatro é amar os outros. Se não, não é teatro. Pode até ser fé, mas não uma religião, pois não pode defender a exclusão e o ódio, como as religiões muitas vezes têm feito. Precisamos do teatro como precisamos de respirar. Nós os do teatro e nós os do público. Todos. E se, por vezes, nos vai faltando esse ar puro, o ar respirável, isso não será também por culpa nossa? Quando, por inércia, comodismo ou desistência, deixamos de respirar, é porque já estamos a morrer. Mas há sempre alguém que começa a respirar em vez de nós, algures noutro lugar deste mundo em que vivemos, e por isso não morremos nunca. Por cada um que desiste, dez avançam para o seu lugar. Não nos vão vencer, mesmo quando nos querem cortar o oxigénio.

E se algum dia se puder dizer que este mundo, aqui ou ali, nisto ou naquilo, está melhor, ninguém duvide de que o teatro pode ter tido alguma responsabilidade nisso. O contrário é que já não é certamente verdade. Se não, não é teatro. Por isso é que continuamos a respirar e a fazer teatro. E a ver teatro. E será talvez por isso que há quem queira que o não façamos. Há quem tenha medo de um mundo melhor.

Quando, no Maio de 68, alguém disse “O Teatro ao Poder”, não era que o teatro quisesse tomar o poder. Podemos ter vários defeitos, mas esse não. O que queremos é que nos dêem o respeito a que temos direito e que não nos cortem o oxigénio. E, senhores do poder, por favor não se convençam de que apoiar as actividades culturais tira votos nas eleições. Há muita, muita gente para quem respirar não é apenas sobreviver. Pensem no exemplo do Reino Unido nos anos 1940, quando Churchill entendeu que, se não aumentasse o apoio à Cultura, não valia a pena estar a gastar mais orçamento para derrotar Hitler.

Rui Mendes, actor e encenador

 

Enviado por António Gomes Marques

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