OS ENSINAMENTOS DE CAROLINA BEATRIZ ÂNGELO, A PRIMEIRA MULHER PORTUGUESA A VOTAR, EM 1911 por Clara Castilho

(1878 – 1911)

Carolina Beatriz Ângelo foi a mulher que votou pela primeira vez, aproveitando-se da omissão legal sobre o sexo do chefe de família. Em 1911 presidiu à Associação de Propaganda Feminina. Foi também a primeira médica a operar em hospitais portugueses.

Nasceu em 1877, na Guarda, onde realizou os seus estudos liceais. Já em Lisboa, ingressou nas Escolas Politécnica e Médico-Cirúrgica, tendo terminando o curso no ano de 1902.

Foi a primeira mulher portuguesa a operar no Hospital de São José. Trabalhou ainda no Hospital de Rilhafoles, sob a orientação de Miguel Bombarda, e dedicou-se à Ginecologia, com consultório na baixa lisboeta.

A sua militância em organizações defensoras dos direitos das mulheres iniciou-se em 1906 no Comité Português da agremiação francesa La Paix et le Désarmement par les Femmes. Em 1907 foi iniciada na Maçonaria, ano em que esteve também envolvida no Grupo Português de Estudos Feministas. Em 1909 fez parte do grupo de mulheres que fundou a Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, defensora dos ideais republicanos, do sufrágio feminino, do direito ao divórcio, da instrução das crianças e de direitos e deveres iguais para homens e mulheres.

Na revolução de 5 de Outubro de 1910 tem associado à sua pessoa o simbolismo de ter participado na confecção das bandeiras hasteadas, obra de que foi encarregada por Miguel Bombarda.

Já depois da implantação da república, esteve envolvida na fundação da Associação de Propaganda Feminista, em Maio de 1911. Esta associação, que chegou a dirigir, teve origem na cisão da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas por questões relacionadas com a tolerância religiosa e o sufrágio feminino. No âmbito da Associação de Propaganda Feminista projectou a criação de uma escola de enfermeiras, o que é referido como mais uma manifestação da sua preocupação com a emancipação das mulheres.

Beatriz Ângelo foi também a primeira mulher a votar em Portugal. Numa altura em que o direito de voto era concedido aos cidadãos portugueses, maiores de 21 anos, sabendo ler e escrever e chefes de família, a persistência de Beatriz Ângelo, a ambiguidade da lei e facto de trabalhar, ser viúva e ter a seu cargo uma filha, permitiram-se lutar pela defesa do seu direito. Votou em Lisboa, em 28 de Maio de 1911, para eleição dos deputados da Assembleia Constituinte, ato amplamente noticiado em Portugal e felicitado em diversos países do mundo pelas associações feministas. Em 1913, a lei eleitoral portuguesa foi alterada, consagrando o direito de voto a cidadãos portugueses do sexo masculino.

Beatriz Ângelo foi sem dúvida uma mulher marcante na história portuguesa, com um percurso interrompido pela sua morte prematura. Morreu aos 33 anos, em 3 de Outubro de 1911.
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