“FANNY E ALEXANDRE” DE INGMAR BERGMAN, LEMBRANDO O CENTENÁRIO DO SEU NASCIMENTO por Clara Castilho

Este é o ano que celebra o centenário de um dos maiores cineastas do século XX. Ingmar Bergman nasceu a 14 de Julho de 1918, em Uppsala, e morreu a 30 de Julho na ilha de Fårö. Foi o mais destacado dos cineastas suecos e um dos mais importantes realizadores de toda história do cinema. Abordando temas existenciais como os da morte, a solidão, a fé, os seus filmes foram, sobretudo nos anos 50 e 60, objecto de uma admiração e de uma atenção que se traduziu em numerosos estudos e teses académicas sobre a sua obra. Influenciado por dramaturgos como Henrik Ibsen e August Strindberg, nos filmes que realizou, existia sempre, subjacente às imagens de um rigor estético extremo, um fundo filosófico.

Mas aqui queremos falar do seu “Fanny e Alexandre”, que deu origem ao grande filme de Ingmar Bergman com o mesmo nome.

Pedro Mexia, no Diário de Notícias afirma:

“Ingmar Bergman sempre escreveu minuciosamente os seus argumentos, alguns dos quais estão publicados em volume, não como simples guiões mas como romances dialogados. Fanny e Alexandre é talvez o guião de Bergman mais romanesco, quase uma antologia de memórias infantis, obsessões, angústias e crueldades. […] Bergman, que tem sido mencionado como possível Nobel da Literatura, é um grande cineasta que é também um grande escritor.”


A história decorre nos anos de 1907–09 (com epílogo em 1910) onde após um alegre Natal na família Ekdahl, Oscar, o pai do casal de crianças Alexander e Fanny, morre. As crianças são obrigadas a deixar a casa da avó paterna, onde foram muito felizes, e passam a viver com a família do padrasto: a mãe, irmã, a tia enferma e as criadas, numa casa afastada e ascética. Deixam para trás uma vida feliz sofrem com hábitos severos, sendo tratadas como prisioneiras.

“ÉMILE: Envolvemo-nos no Teatro numa capa protectora. Mas nos damos conta de que os anos passa. Que a vida corre, é assim que se diz, não é? Os camarotes são quentes e iluminados, o palco rodeia-nos de sombras acolhedoras os poetas dizem-nos o que devemos dizer e pensar. Podemos rir, chorar, encolerizar-nos. As pessoas estão sentadas ali no escuro e gostam de nós, são  extraordinariamente fiéis, embora muitas vezes lhes ofereçamos pedras em vez de pão. Para nos justificar aos olhos das pessoas que nos rodeiam, pretendemos que a nossa profissão é difícil. É uma mentira que as pessoas aceitam, pois é bastante mais divertido assistir a algo de difícil do que a algo de fácil. No entanto, a maior parte do tempo, trata-se de um jogo para nós. Representamos porque achamos que isso é divertido. Se não nos divertirmos, amuamos, lamentamo-nos do estado das coisas, mas nunca de nós mesmos. Passamos assim a vida a enganarmo-nos, a olhar os outros com clarividência e a nós mesmos com indulgência.”

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