“POEMAS ENVELOPE”, DE EMILY DICKINSON por Clara Castilho

Poemas Envelope reúne um conjunto de poemas escritos por Emily Dickinson em envelopes previamente usados para correspondência, e é publicado em edição bilingue nas Edições do Saguão. Esta edição segue integralmente a da New Directions de 2016, feita de uma selecção de reproduções fac-símile (em tamanho ligeiramente menor do que os originais) dos poemas envelope de Emily Dickinson, retirados da edição completa The Gorgeous Nothings (2013). Estes poemas não são apenas escritos nos envelopes escrupulosamente guardados pela autora para reutilizar, mas têm características que resultam do suporte precário em que foram escritos e que torna a sua leitura instável, tanto quanto a sua escrita. Assim, os poemas são, com toda a propriedade, poemas envelope, e a palavra “envelope” torna-se um qualificativo, uma vez que a direcção, o corte do verso, a separação entre palavras, a contenção, as variantes, são guiados pela forma do papel.
Nesta edição transcreve-se a escrita de Emily Dickinson respeitando a disposição, a orientação, as hesitações, as variantes anotadas e as rasuras, e mostrando uma abertura do texto que resiste à ordenação na página convencional e à interpretação única. Na tradução para português destes poemas envelope procurou-se reconstituir as imagens fugidias que os poemas trazem, e ao mesmo tempo reproduzir, da forma mais aproximada possível, a disposição do texto no papel.

Proveniente de família abastada, nasceu em 1813, tendo ficado definida como uma mulher solitária, reclusa, de educação puritana. Consta que Emily, ao morrer, deixa, nas gavetas daquele mesmo quarto onde viveu reclusa em sua escrita, 1.775 poemas, 900 dos quais cuidadosamente copiados a tinta em sessenta pequenos volumes, ou “fascículos”, como foram chamados – folhas de papel meticulosamente dobradas e costuradas – seu livro por vir. Grande parte do restante, e muitos outros escritos ainda, encontravam-se em papéis de diferentes formas e tamanhos, envelopes usados, páginas de cadernos e folhas de receitas.

 

Emily dedicou toda a sua vida a uma produção poética incessante, à exigência de uma obra que se faria presente mesmo sem o encorajamento da aclamação pública. Pois se não se escreve ou publica para ser lido, somente uma necessidade da própria obra pode fazer com que ela seja.

 

Transcrições e fixação do texto original: Marta L. Werner e Jen Bervin
Tradução: Mariana Pinto dos Santos e Rui Pires Cabral
Revisão literária: Jeffrey Childs
Imagens fac-símiles por cortesia da Frost Library, Amherst College

Edições Saguão, 1ª edição, Julho de 2020

 

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