11 de Setembro de 1973 – O DIA EM QUE PINOCHET ENSANGUENTOU AS “CALLES” – por Soares Novais

Pinochet morreu em 2006 e nunca foi julgado pelos crimes que cometeu. Foto: Direitos Reservados

“VEM AÍ O JACARTA”

O fotojornalista brasileiro Evandro Teixeira registou o enterro de Pablo Neruda, que ocorreu 12 dias depois do golpe de Pinochet

 


(1)– O ditador morreu em Dezembro de 2006, sem ser condenado. Manteve-se como chefe supremo das Forças Armadas e foi senador vitalício no parlamento chileno. Pinochet foi detido pela Scotland Yard, em Londres, onde se encontrava para tratamento médico, em 16 de Outubro de 1998. A prisão do ex-ditador obedecia a um mandado de busca e apreensão internacional, que visava a sua extradição para Espanha, país onde seria julgado por crimes contra os Direitos Humanos. Contudo, o pedido feito pelo juiz espanhol Baltasar Garzón não surtiu efeito. Ficou detido em prisão domiciliária, na capital britânica e acabou por ser libertado. Alegadamente, por razões médicas. A então primeira-ministra Margaret Thatcher, grata pelo apoio do ditador na Guerra das Malvinas, que o considerou “um amigo que ajudou a combater o comunismo”, recusou a sua extradição. Ironia das ironias:  Augusto Pinochet morreu a 10 de Dezembro de 2006, exactamente, no Dia Internacional dos Direitos Humanos, estabelecido pela Organização das Nações Unidas.

(2) – Poeta,  cantor, director artístico, compositor, militante do Partido Comunista, professor, Victor Jara (1932-1973) soube do golpe na universidade. Foi imediatamente detido, com outros alunos e professores, e encarcerado no Estádio do Chile. Foi morto a tiro no dia 16 de Setembro de 1973, mas foi necessário esperar até Agosto de 2023 para que o Supremo Tribunal do Chile condenasse sete militares na reserva pelo seu sequestro e homicídio. Cada um dos elementos do bando e o director do Serviço Prisional foram condenados a 25 anos de prisão.

(3)- Pablo Neruda (1904-1973) foi pseudónimo de Ricardo Eliécer Neftalí Reyes Basoalto e mais tarde nome legal do poeta que ganhou o Prémio Nobel da Literatura em 1971. Neruda foi diplomata, senador pelo Partido Comunista do Chile e conselheiro do Presidente Allende. Quando regressou a Santiago, depois de receber o “Nobel”, Allende convidou-o a ler o seu discurso no Estádio Nacional, o que fez perante 70 000 pessoas.  O primeiro editor de Neruda foi Manuel Carlos Jorge Nascimente, português da ilha do Corvo (1885-1966), que se notabilizou como “O Livreiro Santiago”. “Veinte Poemas de Amor e Una Canción Desesperada” (1924) foi editado por Nascimento que também publicou  “Desolacion” de Gabriela Mistral – a também poeta chilena que venceu o “Nobel” em 1945. Já este ano, peritos internacionais afirmaram que o poeta morreu envenenado, pois  a bactéria encontrada nos restos mortais do escritor “estava no seu corpo no momento da morte”,  ocorrida 12 dias após o golpe militar de 1973.

Luis Sepúlveda na “Arca das Letras” em 2004

(4)- Luis Sepúlveda (1949-2020)  morreu com Covid, a 16 de Abril de 2020, após ter participado na edição desse ano do “Corrente d’ Escritas” o celebrado Festival Literário da Póvoa de Varzim. Sepúlveda integrou a guarda pessoal do Presidente Allende. Após o golpe de Pinochet viveu entre Hamburgo e Paris, fixando-se mais tarde em Gijón, nas Astúrias (Espanha). Em Fevereiro de 2004 recebi-o na “Arca das Letras”, num debate moderado pelo jornalista e escritor César Príncipe. O encontro com Sepúlveda contou com centenas de participantes.

(5) – Salvador Allende (1908-1973) foi presidente do Chile, entre 1970 e o dia 11 de Setembro de 1973, quando foi deposto por Augusto Pinochet, que, então, era chefe das Forças Armadas. Allende, médico e político fundou o Partido Socialista do Chile. Foi eleito presidente pelo voto popular. Foi, também, o primeiro marxista que liderou um país da América. Suicidou-se no Palácio de La Moneda, durante o golpe de Pinochet.

(6) Carlos Prats (1915) nasceu em Talcachuano,  cidade portuária que integra a Grande Concepcìón, no centro geografico do Chile, e morreu em Buenos Aires a 30 de Setembro de 1974 – a cidade argentina onde se exilou depois de ter recusado participar no derrube de Salvador Allende. Foi nomeado Comandante em Chefe das Forças Armadas pelo Presidente Eduardo Frei Montalva  (1964-1970) logo após o assassinato de seu antecessor e amigo General René Schneider, tendo sido reconduzido no cargo por Allende, de quem foi também Ministro do Interior, Ministro da Defesa e Vicepresidente da República. Constitucionalista e legalista, recusou-se a participar de qualquer golpe de estado, razão pela qual se viu obrigado a renunciar, abrindo assim o caminho para o sangrento golpe militar de Augusto Pinochet.

Fontes consultadas: “Assim se torturou no Chile”; “O Método Jacarta”; Wikipedia.

2 Comments

  1. 50 anos, Allende!
    Não esqueceremos o que te fizeram
    e respondeste com a glória do verbo
    “Pagarei com a minha vida, a lealdade ao povo”
    Ai! a poesia! sempre a poesia
    no cano das espingardas!

    E agora nesta época de revoltas
    e de revoltados, que cor terá a luta?

    Sem vitórias definitas,
    nem derrotas
    fica a certeza que a luta é eterna!

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