A PRIMEIRA ÁRVORE DE NATAL DO ANDRÉ por Clara Castilho

 

 

 

 

 

 

 

 

Nesta época que me provoca sentimentos tão ambivalentes,

nesta época que sinto saudades de outras épocas e de pessoas muito queridas,

nesta época em que me irrito quando começo logo em Outubro a ouvir canções de Natal nas lojas,

faço minhas as palavras de minha mãe, quando escreveu tão poeticamente sobre um facto  real a que assistimos.

 

Quando Tiago. Em Dezembro, foi com o pai à Arrábida visitar uns amigos, logo ao sair do carro encontrou-se  entre pinheirinhos do seu tamanho. Presos à terra, separados e não aos molhos como em Lisboa quando chega o Natal, foi uma surpresa! Tiago vivia na cidade e nunca tinha visto uma mata onde os pinheiros são árvores  e não coisa que se compra para decorar a casa. E alegre gritou: “Tanta árvore de Natal!” Ali encontrou André, menino que não conhecia, e logo começaram brincadeiras inventadas. Tiago tentou-se com oliveira de braços acolhedores e começou a trepar por ela, mas logo estranhou os frutos: “Olha, uma árvore com uvas!” André,  mais pequenino, incapaz ainda de seguir pelo tronco, disse-lhe  baixo, pachorrento: “Não é uva, é “centona”.

Depois aplicaram-se a enfeitar um pinheirinho, espetando azeitonas no bico das carumas e frutos vermelhos das roseiras bravas, duros também. E deitaram ao acaso, onduladas, em jeito de preguiça, flores que estavam entre as ervas e se chanham candeias. Ficou lindo o pinheirinho!. Tiago entusiasmado, gritou: “Falta estrela!” André. Que outras coisas não conhece senão as que brilham a noite entre a Serra e o ribeiro, ficou admirado: “Estrela aqui?” Tiago não lhe deu resposta, talvez por o achar demasiado pequeno para lhe falar das que se compram em caixas de ano para ano, de Natal para Natal. E o pinheirinho, criança também – não teria mais de seis anos – cheio de enfeites ficou contente. Mais tarde, no escuro, havia um pinheiro diferente, marcas de botas na terra vermelha e ainda o eco do riso das crianças.

André, que pouco sabia do Natal, aprendeu que os pinheiros se enfeitam e, no seu caso,da maneira mais linda: com o que a terra oferece e as crianças livres, inventam. Tiago, por sua vez, ficou a saber outras coisas. Pinheiros são árvores que crescem e não só artigo de Natal; azeitona está na oliveira e, sobretudo, meninos se entendem lindamente mesmo com conhecimentos de coisas diferentes. E ainda que se pode festejar o Natal, cada qual escolhendo seu modo, sem os usos que as outras pessoas fazem obrigatórios.

 

                                                                                           Maria Cecília Correia

 

O engraçado é que o menino da cidade se tornou um defensor da ecologia e vive de actividades de mergulho aquático e o menino que na altura estava a viver no “campo”, não via televisão nem comia fiambre, se formou no Técnico e trabalha para uma multinacional…. A vida tem destas voltas… Que terá ficado daquela experiência na mente de cada um deles? Aposto que nem se lembram. Mas o acontecimento, juntamente com outros, terá contribuído para formar as suas personalidades.

E eu, aqui neste nosso cantinho, tendo tido educação católica, mas não sendo crente, fico a pensar na frase :

” E ainda que se pode festejar o Natal, cada qual escolhendo seu modo, sem os usos que as outras pessoas fazem obrigatórios”.

 

 

 

 

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