O ACORDO ORTOGRÁFICO – 8

Em 8 de Outubro publicámos também esta opinião

ACORDO? – por Magalhães dos Santos

Lembro-me de escrever pai com E, mãe com I. Li posteriormente alguns livros de Júlio Verne em que se grafava ainda com os PH, os CH, os YY, quantas letras dobradas: ANNOS, COMMANDO, ELLA, HOLLANDEZ, SYMPATHICO (sem acento), PHILOSOPHIA, AFFLICÇÃO, quantas outras grafias deste género!

O “meu” primeiro acordo ortográfico data de 1947.

Depois – não vou fazer propriamente uma cronologia da nossa ortografia… – houve uma alteração também importante. Até 1972, para formar o advérbio de modo a partir de SÓ, acrescentava-se o sufixo –MENTE e o acento agudo mudava para grave: SÒMENTE.

Depois dessa data… deixou de “levar” o acento grave, ficou somente: SOMENTE. Ainda o mesmo exemplo, SÓ: se lhe acrescentássemos o sufixo diminutivo –INHO, deveríamos meter-lhes no meio o infixo –Z- e mudar-lhe o acento de agudo para grave: PÈZINHO.

Até 1972. A partir desse ano, nem acento agudo nem grave: PEZINHO. Se não me engano, as principais, as mais sensíveis alterações que este Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, firmado em 1990, impõe são o “desaparecimento” de CC e PP que NÃO SE PRONUNCIEM. Como é o caso de acção, que passa a AÇÃO, de excepto, que passa a EXCETO.

“Problema”: casos há em que se registam duplas grafias: no Brasil, há palavras em que, por exemplo, o C “desaparece”… Eles dizem FATO, nós continuamos a dizer FACTO. Em CORRUTO os Brasileiros poupam, não escrevendo o P. Os CORRUPTOS, entre nós, dão-nos grande prejuízo! Só na tinta que com eles gastamos a escrever-lhes o P! E com a CORRUPÇÃO a mesma coisa. Muito prejuízo nos dá a CORRUPÇÃO! Aqueles PP todos muito prejudicam o nosso Povo!

Só na escrita as coisas mudam! Ninguém passará a pronunciar de modo diferente do que usava até aqui! Vão-se perder algumas maiúsculas iniciais?… Vão. Sem ironia, apenas brincando, acho que não é uma desconsideração aos meses nem às estações do ano, passar a escrever-lhes os nomes com minúsculas: janeiro e dezembro (e os outros) não perdem a sua categoria por passarem a grafar-se desta maneira. O mesmo se passa com as estações do ano: a primavera, o verão, o outono e o inverno não ficam mais chuvosos, nem mais secos, nem mais quentes nem mais frios por passarem a ser escritos com minúscula. Que é, de resto, como se escrevem em Castelhano/Espanhol, em Francês e em Italiano. É bom estarmos assim acompanhados! Verbos como CRER, DAR, LER, VER, e seus compostos, deixam de ter acento circunflexo nas formas em que têm dois EE: passa a ser só CREEM, DEEM, LEEM, VEEM, como DESCREEM, DESDEEM, RELEEM, PREVEEM.

O “acordo” data de 1990, só em 2012 vai obrigatoriamente entrar em vigor. Vinte e dois anos! E a aceitação do “acordo” continua a ser difícil… Essas dificuldades poderão ter diversas causas: alguma animosidade perante uma inovação; negação do que venha alterar hábitos de anos e anos. Embirração com “modernices”. Um certo nacionalismo, que encara com má vontade o que considera serem “cedências” aos Brasileiros numa área em que nós é que somos os “donos da Língua”; porque se considera que “a Língua é nossa” e não temos nada que a alterar; “eles” é que deviam “vergar-se” à nossa grafia. Oxalá não se descubra qualquer má vontade minha contra estas e outras razões que levam à rejeição do “(des)acordo”. Um livro em que encontrei boa defesa deste “acordo” é O ACORDO ORTOGRÁFICO, de Francisco Álvaro Gomes.

Que não se priva de, muito justamente, apontar defeitos que o “acordo” muito humanamente mas indesejavelmente tem. Com os hífenes, por exemplo, é uma complicação, que o autor também aponta e reprova. Eu aderi ao “acordo”. Mero cumprimento da lei? Não acho. Se assim fosse, revelaria seguidismo, falta de personalidade, disso seria acusado. Julgo que é concordância com os seus melhores, mais positivos aspetos.

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