SERÁ QUE NÃO ASSISTIMOS JÁ A ESTE ESPECTÁCULO? OS RESULTADOS PASSADOS NÃO SÃO NENHUM GUIA PARA OS RESULTADOS FUTUROS – Por DANIEL ALPERT

Selecção e tradução por Júlio Marques Mota

TERCEIRA PARTE

Daniel Alpert, Westwood Capital, LLC, Research

(continuação)

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Desemprego  – Então e agora

Ao contrário da lembrança colectiva, o  desemprego – embora com uma má tendência no  início de 1930 – não estava ainda ao nível daquele que deu como resultado as longas filas para receberem a sopa dos pobres e dos centros de bem-estar a que todos estamos hoje familiarizados com as fotografias a preto e branco granulado na parte final da década. Na verdade, em 1930, a taxa de desemprego era quase idêntica aos níveis atuais numa base de igual para igual.

Como escrevemos no dia 22 de Janeiro deste ano, uma peça intitulada “os dias infelizes estão de novo perto de nós”,  as taxas de desemprego da década de 1930 foram calculadas de forma muito diferente daquelas que são hoje utilizadas, para efeitos da determinação da taxa de desemprego de referência “headline” conhecida nos Estados Unidos como  “U-3” pelo Bureau of Labor Statistics (BLS).  A principal diferença (e, por favor, leia o nosso artigo  anterior para ficar com uma melhor explicação) é a eliminação de uma grande faixa da população civil da força de trabalho nos números dos dias modernos, contrariamente ao que se calculava nos anos 30:

􀂄  Trabalhadores que dizem estarem disponíveis para e que querem um  emprego, mas que não o procuraram nas  quatro semanas ultimas não são já considerados  força de trabalho  (“marginally attached workers”).

􀂄 As pessoas que trabalham apenas parte do tempo, os trabalhadores a tempo parcial, por pouco que seja, como por exemplo uma hora por semana  ou até mesmo sem ser pago,  nalguns casos  porque eles não conseguem encontrar um emprego em tempo integral, são considerados totalmente empregados (“em tempo parcial por razões de ordem económica “).

􀂄. Trabalhadores em greve sem serem pagos  são considerados empregados.

􀂄 Trabalhadores que estejam inscritos em  cursos de formação ou outros  não são  considerados  na força de trabalho.

􀂄 Trabalhadores em licença temporária dos  seus empregos, independentemente se eles estão a ser pagos ou não  são considerados como estando  empregados.

Não é este  o caso na década de 1930 e – sem entrar em detalhes contidos no nosso artigo anteriormente citado – basta  dizer  que os números do desemprego daquela época  são os que se aproximam ou têm alguma semelhança próxima com  os  números publicados mensalmente pelo BLS, conhecidos  como “U-6.” A principal diferença entre U-6 e as taxas de desemprego civis dos anos  30, é que nos primeiros  estão excluídos os funcionários  não militares do  governo – mas como nos  anos 30  havia claramente muito menos gente neste contexto do que  na força de trabalho actual, portanto, a diferença é relativamente modesta…

Ao nível da metodologia dita U-6 em  Julho de 2009 tínhamos a taxa de 16,3% – que é aproximadamente comparável à taxa de  desemprego que teria sido  registada em circunstâncias semelhantes em 1930 (depois de 1932, as estatísticas de desemprego são um pouco exageradas pela  era da depressão e até porque se excluía como empregados também  os trabalhadores que eram empregues através dos enormes e profundos programas de emprego do  New Deal).

Não temos dados mensais de 1930 em que nos possamos apoiar  mas sabemos que durante a  década de 1930, o desemprego disparou de 8,70% para 15,90%, conforme o abaixo gráfico. Basta então dizer que, usando os valores da descida de  U-6 ajustados como valores comparáveis, estaremos  então de forma agora mais correcta na mesma linha de comparação .

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A avaliação pelos mercados

Mais  tarde, com a esperança na retoma  de 1930, especialmente com   o Dow Jones a aproximar-se do seu valor de pico de 293.07, as firmas de corretagem começaram a alertar os seus clientes sobre a aparente incapacidade de reconciliar os preços de mercado com o ambiente global de actividade económica:

“Pela primeira vez em muitas semanas as cartas enviadas pelos correctores aos seus clientes para que fossem lidas no fim-de-semana tiveram ontem algo a dizer para além da palavra de ordem habitual de tenham cautela. Uma larga percentagem destas cartas dava claramente a entender que os analistas que as escreviam estavam conscientes da possível reacção no mercado de acções, com base na fraqueza continuada dos preços das commodities, no declínio acentuado do nosso comércio exterior e na situação de desemprego

Em muitos casos, no entanto, a sugestão dada era de que não se precipitassem na base destas informações, que aguardassem  para pensar em decisão  depois  das declarações de rendimentos das grandes empresas  cobrindo o primeiro trimestre do ano, o que será  revelado dentro de uma a duas semanas . Não obstante a falarem da possível reacção, muito poucas dúvidas foram expressas quanto ao facto de “o público” estar de volta aos  mercados.”

Avisos similares foram apresentados  nas últimas semanas. Isto é compreensível, na medida em que passámos de Março de 2009, com a avaliação da S & P 500 de  11,7 vezes os seus valores médios dos seus resultados dos  últimos 10 anos, para uma alta de quase 19 vezes (na última quinta-feira) em menos de seis meses – tudo isto enquanto os  ganhos das grandes empresas ou continuavam  a descer  ou então eram, o que era quase que como regra geral, o resultado mais  da redução dos custos do que de uma  qualquer melhoria do seu ambiente económico geral.

O elevado valor como múltiplo é, evidentemente, o resultado da  expectativa de uma recuperação dos rendimentos. Mas o valor de pico da semana passada é bem superior a média de longo prazo do mercado de 16,3 vezes, um nível que ele próprio não tem sido visível  frequentemente no meio dos  períodos de desemprego elevado e  das recessões severas.

(continua)

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Para ler a Segunda Parte deste trabalho de Dan Alpert, publicada ontem, dia 19 de Outubro, em A Viagem dos Argonautas, vá a:

http://aviagemdosargonautas.net/2013/10/19/sera-que-nao-assistimos-ja-a-este-espectaculo-os-resultados-passados-nao-sao-nenhum-guia-para-os-resultados-futuros-por-daniel-alpert-2/

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