(1924 – 1952)
Um Café na Internet
Nunca o Mar me quis ter nas suas ondas
enrolado e perdido.
Sou o Poeta das manhãs fecundas:
vivo me quer o Mar, para cantá-las
Ó Mar, onde se acaba
tudo que é vão!
Ó Mar feito do nada dos regatos
e dos rios efémeros!
Saibam minhas manhãs a maresia!
Haja ranger de cordas de navios
e searas de limos e de peixes,
haja a violência harmónica das ondas
nas manhãs que dão cor aos meus poemas!
Tudo fala verdade ao pé do Mar.
Mesmo as nuvens são velas que se rompem,
castigadas de um Sol que é vento puro
e que tem o direito de passar.
Andam gaivotas tontas à deriva
(acenos da ternura da Manhã…).
Tinem, nos estaleiros, marteladas.
E os motores monótonos, os gritos
dos homens e das aves, o inquieto
verbo do Mar, nas rochas espalmado
a todos os minutos, desde há séculos,
tudo revela a esplêndida verdade
de ao pé do Mar, em tudo que é do Mar,
a Vida estar desperta.
É o ar da Manhã, hálito alegre
do Mar, que enfuna as velas orgulhosas
desta canção poético-marítima.
Religiosamente aqui desfio
meu rosário de vagas.
Canção inútil!
Clarim que anunciou a Madrugada
depois de a Madrugada ter florido…
In Cabo da Boa Esperança, Obras de Sabastião da Gama. Edições Ática, Colecção Poesia. Obrigado também ao site As Tormentas.
Un poema excel·lent, en el qual he trobat la llum -feta de fondàries i de vastituds sense límit- que veia sempre en els ulls del meu pare, home de mar, fill d’una família d’homes rudes del mar a les costes gallegues. El guardaré entre els poemes que estimo.
O Sebastião da Gama era da Arrábida, que ele adorava. Foi mais um que morreu muito novo, levado pela doença. Bem que podia ser mais recordado, nem que fosse só assim:Palavra nunca vista e nunca ouvidamas presente em meu sangue e em minha almacomo a lembrança vaga de um poente…