Um livro que eu li – Tempos difíceis, de Charles Dickens – por João Machado

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A celebração do segundo centenário do nascimento de Charles Dickens foi um excelente motivo para para o reler. E para ler alguns dos seus romances pela primeira vez.  Foi o caso de Tempos Difíceis (Hard Times), que foi publicado em 1854. Li-o na tradução de Domingos Arouca, publicada em 1950 pela Livraria Romano Torres. Uma tradução que me pareceu de muito boa qualidade, e que tem um interessante prefácio do escritor, jornalista, cineasta e radialista Gentil Marques (1918 – 1991).

Gentil Marques refere que Tempos Difíceis marca na vida literária de Dickens o início da sua segunda fase. Enquanto que na primeira (Oliver Twist, The Old Curiosity Shop, Dombey and Son, David Copperfield e outros) fora apenas o mordaz observador dos costumes da sociedade, depois foi mais além, procurando estereotipar essa mesma sociedade, revelando-lhe os erros e as chagas. Walter Allen, em The English Novel, cita Humphry House (1908 – 1955), que diz que uma das razões porque nos anos 50 os romances de Dickens começaram a mostrar uma maior complexidade de enredo do que anteriormente é porque ele tencionava usá-los como veículos para um mais concentrado argumento sociológico. A seguir Allen refere que Dickens estava a usar o romance quase deliberadamente como veículo para a crítica social, e o enredo, por muito melodramático, mecânico, artificial ou idealizado que fosse, permitia-lhe dar uma imagem mais completa de toda a sociedade do seu tempo do que a realizada por qualquer outro romancista inglês.

De facto é evidente o esforço de Dickens em Tempos Difíceis para nos dar uma visão da sociedade inglesa no seu tempo. Fá-lo como sempre nos seus romances, combinando admiravelmente o entretenimento com uma abordagem séria e interessante da sociedade do seu tempo. E consegue-o mais uma vez aqui. Podem apontar-se-lhe limitações, como a idealização excessiva de certos personagens, algum maniqueísmo no tratamento das situações, mas o romance está muito bem estruturado e dá sem dúvida uma imagem verosímil da Inglaterra do século XIX.

De assinalar em especial que Dickens, nas suas críticas aos métodos de ensino aplicados na escola do senhor Gradgrind, está a procurar demonstrar os erros cometidos no sistema de ensino, e as limitações da filosofia utilitarista, que tinha tido muita voga em Inglaterra.

Leiam, que vale a pena.

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