COMEMORAR ABRIL – por Carlos Loures

Vamos comemorar o 25 de Abril.

 

Fazemo-lo, não numa perspectiva nostálgica, mas com a ideia de que se fomos capazes de sair do cárcere sinistro em que estávamos nessa Primavera de há trinta e oito anos, também nos saberemos desenvencilhar desta situação actual. Desta vez não estamos num cárcere, mas num labirinto de um parque temático onde animais estranhos nos saltam ao caminho. Como não encontramos a saída, pode dizer-se que estamos prisioneiros, embora tenhamos a possibilidade de ir em frente, cortar à direita, voltar à esquerda…

 

Quando vemos gente da actual direcção do PS, gente do partido herdeiro em linha recta da União Nacional, gente do CDS, a comemorar o 25 de Abril, vem-nos à memória as palavras de Salgueiro Maia quando se celebrou o décimo aniversário da Revolução. Dizia ele que, decorridos dez anos se tornava interessante assinalar «a evolução do comportamento de muitos dos intervenientes, em especial os políticos e os militares que conseguiram passar de um regime a outro, sempre na crista da onda». E já nessa altura ele lamentava que a generosidade dos capitães de Abril tenha sido tão favorável ao desenvolvimento da corrupção, da incompetência, do compadrio, ao florescimento do circo do Poder. E perguntava «Até quando?».

 

Por isso o 25 de Abril que esse surfistas festejam é o das «liberdades». Nós gostaríamos de poder festejar a Liberdade, mas não nos é possível – porque a Liberdade tem a ver com a erradicação da injustiça social, das desigualdades, da corrupção. E numa sociedade onde vinte por cento das pessoas vive abaixo do limiar da pobreza (a realidade é capaz de ser pior…) como podemos dizer que há Liberdade?

 

Em 25 de Abril os militares deram-nos a possibilidade de construir a Democracia. Nâo fomos capazes, não nos deixaram ou não fomos capazes por não nos terem deixado. Comemoremos a generosidade dos capitães. Pouco mais há a comemorar.

Leave a Reply