Globalização e Desindustrialização – 4ª Série

Selecção e tradução por Júlio Marques Mota

 

Capitulo III.  Alguns retratos mais sobre a globalização, sobre a desindustrialização

 

9. O fotovoltaico alemão em plena derrota    

 

Cécile Boutelet

 

 

 

É uma hecatombe que atinge a indústria  alemã  do fotovoltaico. A firma Q – cells, outrora  o primeiro fabricante de painéis solares no mundo, ira apresentar o seu pedido de declaração de falência  na  terça-feira, 3 de Abril. Desde há algumas  semanas, a empresa, que perdeu em 2011 quase 850 milhões de euros com um volume de negócios de mil milhões de euros, estava a  tentar  rectificar  as suas contas.


A falência de W-Cells acontece depois da  das empresas Solarhybrid, Solar Millennium, Solon, três outros pesos pesados alemães a indústria alemã do fotovoltaico. No entanto, a procura de  painéis solares nunca foi tão alta na Alemanha.


Mas os industriais estão encurralados entre duas grandes mudanças. Por um lado, a concorrência da China, que produz os painéis a um preço mais baixo e de qualidade equivalente, provocou  uma quebra brutal  dos preços nos últimos anos. Por outro lado, o Governo alemão, pela explosão de instalações, cortou duramente  nos subsídios para a electricidade de origem solar que absorvem, só para esta indústria, cerca de metade do envelope dado por Berlim para as  energia renováveis.


Os fabricantes não foram capazes de reestruturar os seus custos a tempo. “Os industriais  acreditavam que os consumidores estariam dispostos a pagar mais caro pelo “made in Germany”  pensa  Wolfgang Hummel, da Escola Técnica Superior de Berlim. “A indústria solar alemã conheceu  um crescimento extremo nos últimos anos, a bolha  está em vias de estourar,” diz Claudia Kemfert, uma perita em energia especializada pelo  Instituto Económico de Berlim, “Penso que vai aí  haver  fusões e aquisições, devem-se esperar ainda mais falências “.


2 200 empregos ameaçados


Mas o investigador não prediz o fim do fotovoltaico alemão: “a procura global para painéis solares irá aumentar, é importante que as empresas sólidas alemãs fortes estejam posicionadas neste mercado.” Assim, o grupo Bosch Solar Energy Group continua a investir numa actividade considerada promissora a longo prazo, apesar de uma perda de 500 milhões de euros em 2011. Em meados de Março, a Bosch abriu uma fábrica para a produção de painéis perto de Lyon e planeia abrir outra na Malásia.


Q-Cells espera com a apresentação do seu pedido de declaração de falência , melhorar a sua situação financeira  antes de negociar um acordo com os seus credores. ” Q-Cells ainda tem um futuro,” quer acreditar Sylke Teichfub, do sindicato IG A.C. A empresa fundada em 1999 foi durante muito n tempo a estrela de TecDAX, o índice alemão de valores tecnológicos. No final de 2007, o seu valor estimado em 8 mil milhões de euros, ela esperava entrar para o DAX, o índice  de referência de Frankfurt.

 

Q-Cells, 2 200 empregos estão ameaçados, mas é toda uma região que olha  com ansiedade a evolução da situação da empresa. Porque Q-Cells forma o núcleo do “Sollar Valley”, o vale do sol, uma zona industrial criada numa região da Alemanha sinistrada pela reunificação, que tinha apostado no desenvolvimento do fotovoltaico alemão.


Cécile Boutelet,  Le photovoltaïque allemand en pleine déroute, LE MONDE,  03.04.2012 

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