O GARDEN- PARTY, de KATHERINE MANSFIELD – X. Tradução de João Machado.

Um Café na Internet

(continuação)

E uma tarde perfeita amadureceu lentamente, lentamente se foi apagando, lentamente fecharam-se as suas pétalas.

 

― Nunca um garden-party foi tão delicioso… ―, ― O maior acontecimento…―, ― Foi  mesmo o máximo…

Laura ajudou a mãe nas despedidas. Ficaram lado a lado no alpendre até tudo ter acabado.

― Acabou tudo, finalmente, graças a Deus, ―disse a Senhora Sheridan. ― Junta os outros e vamos tomar um café acabado de fazer. Estou exausta. Pois, correu tudo muito bem. Mas estas festas, estas festas! Porque é que, miúdas, insistem em dar festas! ― E foram todos sentar-se debaixo do toldo deserto.

― Querido papá, come uma sanduíche. Fui eu que fiz o letreiro.

― Obrigado. ― O Senhor Sheridan deu uma dentada e a sanduíche foi-se. Pegou noutra. ― Suponho que não ouviram falar de um acidente brutal que aconteceu hoje? ― perguntou.

― Meu querido, ― disse a Senhora Sheridan, levantando a mão, ― ouvimos. Quase estragou a festa. A Laura insistia em que a suspendêssemos.

― Oh, mãe! ― Laura não queria que a arreliassem com o assunto.

― Foi um acontecimento horrível de qualquer modo, ― disse o Senhor Sheridan. ― O fulano ainda por cima era casado. Morava mesmo aqui em baixo na travessa, e deixa viúva e meia dúzia de garotos, ao que contam.

Caiu um silêncio pesado. A Senhora Sheridan abanicava a chávena. Realmente, era cá uma falta de tacto do pai…

De súbito, olhou em frente. Sobre a mesa restavam por comer sanduíches de todos os tipos, bolos, bombas. Iam ser deitados fora. Teve uma das suas ideias brilhantes.

― Já sei. ― disse. ― Vamos arranjar um cesto. Vamos enviar àquela pobre criatura alguma desta comida em perfeito estado. Seja como for, será o melhor regalo para as crianças. Não acham? E com certeza que ela tem lá vizinhos a visitá-la, fora o resto. Que bom ter coisas já prontas para comer. Laura! ― Levantou-se com um pulo. ― Vai buscar o cesto grande ao armário da escada.

― Mas, mãe, acha que é boa ideia? perguntou Laura.

Como era curioso que, mais uma vez, ela se sentisse diferente de todos os outros. Levar migalhas da festa. Será que a pobre mulher iria gostar?

― Claro que sim! Que se passa contigo hoje? Há uma hora ou duas insistias em que devíamos ser simpáticos, mas agora….

Está bem! Laura foi a correr buscar o cesto. A mãe encheu-o até cima.

 

(continua)

Leave a Reply