EM COMBATE – 89 -por José Brandão

 

OPERAÇÃO “TRIDENTE”, ILHA DO COMO, EM QUE A BCAV 490 PARTICIPOU.

ASPECTOS GERAIS

A Operação Tridente ocorreu em Janeiro de 1964 incidindo sobre as ilhas do Como e Caiar, tendo por objectivo desalojar as forças do PAIGC instaladas na mata da ilha do Como e que serviam de elo de ligação e apoio logístico entre as forças do movimento de libertação que combatiam no sul da Guiné e as bases para além da fronteira. Tinha uma duração prevista de um mês, mas passados trinta dias ainda não tinham sido alcançados os objectivos propostos, pelo que se prolongou por mais algum tempo.

 

Nenhuma operação tinha, até então, mobilizado tantos meios e tão poderosos na Guiné, para além de concentrar em simultâneo meios terrestres, meios aéreos e navais em particular a fragata Nuno Tristão que permaneceu ao largo da ilha do Como durante o desenrolar da Operação, para além de outros navios e lanchas, um helicóptero Alouette II para operações de transporte e de evacuação de feridos, os F-86 Sabre, caça bombardeiros em permanente alerta no AB12, em Bissau e os aviões T-6 em apoio táctico permanente e DO-27.

 

De salientar que pela primeira vez, na história da Marinha e da Força Aérea Portuguesa o Alouette II podia aterrar e estacionar na fragata, numa exígua plataforma de madeira colocada à ré do navio que obrigava o piloto, na aterragem, a uma manobra de precisão que, se corresse mal significava a queda ao mar com consequências irreversíveis. A cauda do aparelho ficava fora da borda do navio o que obrigava o mecânico de voo que tinha obrigatoriamente de proceder à lubrificação, entre voos, do veio do rotor de cauda, a executar manobras acrobáticas para conseguir chegar ao extremo da cauda do aparelho por sobre a água. Isto sem rede, o que apresentava uma desvantagem em relação ao trabalho de circo.

 

A preparação desta operação implicou o bombardeamento prévio da ilha durante semanas. A Força Aérea, para além dos constantes bombardeamentos diurnos efectuava bombardeamentos nocturnos para o que utilizou os aviões P2V-5 de luta anti-submarina que foram deslocados da sua base no Montijo para o AB12 em Bissau. Mesmo o C-47, avião de transporte de carga e passageiros que pertencia ao AB12 interveio no bombardeamento, lançando bombas de profundidade através da porta lateral.

Durante esta fase preparatória os guerrilheiros abateram um T-6 por terem atingido o piloto, cujo corpo foi posteriormente recuperado. Em complemento, a artilharia estacionada em Catió flagelava também a ilha e sobretudo a bolanha quando a maré estava baixa.

 

A ilha do Como, na maré baixa ligava-se ao território através da bolanha que se formava pelo que a acção da artilharia era importante para interditar a passagem de pessoas e carga durante esta fase. Na maré-alta formava-se um canal navegável que permitia a actuação de navios da marinha, substituindo os bombardeamentos da artilharia.

 

O que é facto, é que os intensos bombardeamentos parece não terem incomodado os combatentes do PAIGC nem os levaram a abandonar o abrigo da mata no centro da ilha, uma vez que, na primeira tentativa de penetração dessa mata, as nossas forças foram repelidas e deixaram três mortos no local, tendo sido necessário desencadear um golpe de mão para recuperação dos corpos que entretanto tinham sido despojados de armas e camuflados.

 

Os guerrilheiros utilizavam abrigos de madeira em forma de “u” invertido que enchiam de areia. Quando mudavam de posição esvaziavam o abrigo que levavam consigo, tornando a enchê-lo de areia. Desta forma obtinham uma protecção e uma mobilidade que as nossas forças não possuíam, o que lhes dava vantagem no tipo de guerra de guerrilha que as F.A. enfrentavam.
José Villalobos

 

As nossas forças terrestres envolveram nesta operação cerca de 1000 a 1200 homens, com forte presença das três CCav do BCav 490, de forças especiais dos fuzileiros, comandos e pára-quedistas, sendo que o comandante das Forças Terrestres era o tenente-coronel Fernando Cavaleiro (comandante do Batalhão de Cavalaria 490).

A Operação Tridente foi uma das mais importantes que as forças portuguesas realizaram nos teatros de guerra de África. Em termos conceptuais, tratou-se de uma operação combinada de forças do Exército, Marinha e Força Aérea, que desencadearam uma ofensiva convencional contra um objectivo determinado – a ilha do Como. Foi a primeira operação com estas características efectuada durante os treze anos de guerra e tinha como finalidade ocupar as três ilhas que constituem a região do Como: Caiar, Como e Catungo, as quais, desde 1963, estavam controladas pelos guerrilheiros do PAIGC. A região do Como era considerada importante pelo comando militar português, porque constituía uma base a partir da qual as forças da guerrilha podiam flagelar o território do continente e dificultar a navegação para sul da Guiné, por ser um ponto de apoio para as suas linhas de reabastecimento e porque lhes fornecia recursos alimentares, nomeadamente arroz.

 

A superfície das ilhas é de cerca de 210 quilómetros quadrados, dos quais 170 quilómetros quadrados são de tarrafo, que de doze em doze horas e, durante três horas, em virtude das marés, ficam cobertos de água e, na baixa-mar, deixam à vista lodo e lama. No interior, as zonas de mata são densas e de difícil progressão. As forças portuguesas estimavam em trezentos os efectivos dos guerrilheiros, entre os quais referenciavam um grupo de quinze militares da Guiné-Conacri. Estas forças controlavam também a totalidade da população.

 

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