Iniciamos hoje uma antologia dos maiores poetas italianos do século XX, e precisamente por
Umberto Saba – Itália
(1883 – 1957 )
ULISSES
Na minha juventude naveguei
ao longo das costas da Dalmácia. Ilhéus
à flor das ondas emergiam, onde raro
uma ave buscava a sua presa,
cobertos de algas, escorregadios, ao sol
belos como esmeraldas. Quando a noite
e a maré alta os ocultavam, as velas
sob o vento o largo demandavam,
para fugir da cilada. Hoje o meu reino
é essa terra de ninguém. No porto
acendem-se as luzes para outros; a mim para o alto mar
me leva ainda o não domado espírito,
e da vida o doloroso amor.
(de “Il Canzoniere”, trad. de José Manuel de Vasconcelos)
Cantor de Trieste, a sua poesia é indissociável desta cidade e da sua complexa história.
Reuniu toda a poesia no volume “Il Canzoniere” (1921), obra aumentada com os livros que iam sendo publicados, reeditada diversas vezes até à ed. definitiva de 1957. De Umberto Saba, para além de traduções dispersas (por exemplo, “Vozes Íntimas”, por António Osório em 2008), dispomos agora de uma antologia exaustiva: “Poesia” (Assírio & Alvim, 2010), com tradução de José Manuel de Vasconcelos.