Iniciamos hoje uma antologia de poetas espanhóis do após-guerra, servindo-nos, para isso, do volume “Poesia Espanhola do Após-Guerra, selecção e tradução de Egito Gonçalves (Lisboa, Portugália, s/d).
Gabriel Celaya – Espanha
( 1911 – 1991 )
A RAFAEL MELERO
É proibido chorar.
É proibido ir com os rios para o mar
onde tudo é igual.
É proibido sorrir
de modo subtil, sem nada dizer,
dizendo que tanto faz o sim ou não.
É proibido violentar
e, ainda que armados de razão, atacar.
É proibido forçar.
É proibido falar do fim
quando tudo é no entanto um: ai! não aí,
e um flutuante ver chegar.
É proibido o gesto
de consciência pessoal, piscar de olhos da liberdade,
porque existem os outros.
É proibido morrer
por cultura, cepticismo, ou porque assim
se descansa de existir.
É proibida a moral
das boas intenções, que, associal,
por nada dá o mais próximo.
Há que crer e viver.
Resolutos, ainda que sem ódio, decidir
o dizer sim claramente
Vem para mais perto, mais perto.
Não me perguntes o que é claro. Também o vês chegar
na unidade dos homens – tu por mim.
(tradução de Egito Gonçalves)
Nasceu em Hernani (País Basco). Publicou vários livros de ensaio sobre poesia. Da sua extensa obra poética, salientam-se aqui: “Movimientos elementales” (1947), “Objectos poéticos” (1948), “Deriva” (1950), “Lo demás es silencio” (1952), “Cantos iberos” (1955), “De claro en claro” (1956), “El corazón en su sitio” (1959, Venezuela), “Episodios Nacionales” (1962).