Ó VARELA, OLHA A CADELA!

No dia 3 de Novembro de 1957, os noticiários da rádio, da televisão (fora inaugurada nesse ano e poucos tinham televisores em casa – via-se televisão no café), os jornais, não falavam de outra coisa. A União Soviética pusera em órbita a nave Sputnik II. Um mês antes lançara com êxito o Sputnik I, o primeiro objeto artificial a entrar em órbita, enquanto em Cabo Canaveral os insucessos se acumulavam, com os foguetões a não conseguir elevar-se ou a despenhar-se segundos após o lançamento. A novidade que emocionou o mundo é que enquanto o primeiro Sputnik não era tripulado, o segundo levava a Laika (Лайка), uma cadela,  o primeiro ser vivo terrestre a orbitar o planeta  Terra. A Laika morreu entre cinco e sete horas depois do lançamento, bem antes do planeado. A causa da morte, que só foi revelada décadas depois do voo, terá sido devida ao stress sofrido pelo animal associado ao sobreaquecimento ocasionado por uma falha no sistema de controlo térmico da nave.

Falemos agora de outra personagem – O Professor Varela Cid, professor de Aerodinâmica no Instituto Superior Técnico, pessoa de grande prestígio científico. Declarou numa entrevista ao Rádio Clube Português que, no estado actual dos conhecimentos, era impossível colocar um satélite no espaço – só podia ser propaganda soviética. Mas as provas de que não se tratava de propaganda não se fizeram esperar. O Observatório Nacional da Ajuda começou a registar o bip-bip da passagem do satélite. De Washington chegavam também declarações oficiais do  presidente Eisenhower, reconhecendo a proeza científica dos russos.

Creio que a ideia partiu de Coimbra. Os estudantes em postais endereçados ao senhor professor, escreviam em letras garrafais – «Ó Varela, olha a cadela!». A caixa do correio de Varela Cid abarrotava – até que os CTT receberam ordem para reter os postais. Mas a moda estendera-se a todo o país. Muitos milhares de postais vinham de todo o país.

 A oposição e a resistência também se faziam desta forma.

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