Pentacórdio para Terça 29 de Janeiro

por Rui Oliveira

 

 

   A Terça-feira 29 de Janeiro volta a ser um dia de escassa novidade em termos de realizações culturais nesta cidade de Lisboa.

cuarteto casals   Não pode esquecer-se, claro, mais uma jornada, no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, pelas 19h, do Quarteto Casals − composto por Vera Martinez (violino), Abel Tomàs (violino), Jonathan Brown (viola) e Arnau Tomàs (violoncelo) – que, nesta sua 4ª sessão, irá tocar de Franz Schubert :

            Quarteto para Cordas nº 3, D. 36

            Quarteto para Cordas nº 6, D. 74

            Quarteto para Cordas nº 13, D. 804, Rosamunde

   Deste último quarteto, escrito por Schubert em Fevereiro/Março de 1824, quase na mesma altura do Quarteto A Morte e a Donzela da sessão anterior, volta a não existir registo pelo Cuarteto Casals, pelo que optámos por mostrar (para relembrar a beleza dos temas) a sua interpretação pelo Kubin Quartet, uma formação premiada de Ostrava (Rep. Checa), composto por Luděk Cap violino, Jan Niederle violino, Pavel Vítek viola e Jiří Hanousek violoncelo :

 

  

2104548876_0d82ce8f6e_z - Copysamara lubelski ++   Mudando radicalmente de género musical (ou talvez não…), é aguardada com expectativa pela crítica da especialidade a vinda nesta Terça-feira 29 de Janeiro ao espaço Lounge (Rua da Moeda, nº 1, ao Jardim D.Luís, Cais do Sodré), às 22h30, de Samara Lubelski, novaiorquina de gema, considerada “uma das grandes senhoras do universo independente de produção de som mais arrojado”. Traz consigo o seu sexto CD “Wavelength”, “delícia de folk psicadélica” (seg. G.F. in Ípsilon).

Samara_WavelengthWEB   Vinda da música clássica (que nunca abandonou), onde dominava o violino, fez parte de diversos grupos desde os Metabolismus e os Hall of Fame até ser convidada para a banda de Demolished Thoughts de Thurston Moore, com quem hoje integra o seu novo projecto conjunto Chelsea Light Moving (que prepara um disco para Março). Mas nunca afastou o percurso a solo (que ouviremos) porque o considera “o menos impositivo … permite uma ligação mais intensa, uma sensação de unicidade, uma comunicação silenciosa” pela improvisação de que é fervorosa adepta.

   Eis “Jammage Cruiser” desse último álbum Wavelength :

   No campo do cinema, estão nas salas (como é amplamente sabido) várias películas de aparente qualidade (dizemos aparente por ainda as não termos ainda visto) de que lembramos três (antes da chegada de “Lincoln” de Steven Spielberg).

   Quase nos limitaremos a mostrar, para um juizo prévio, os trailers dos que primeiramente surgiram em exibição (deixando o recentíssimo “Django Libertado” de Quentin Tarantino, porventura o melhor de entre eles, para um Pentacórdio posterior).

   Assim consideraríamos merecer visionamento “00:30 A Hora Negra” de Kathryn Bigelow e “Reality” de Matteo Garrone.

kathryn-bigelowPOSTER-CINEMA-0030-a-hora-negra_Final   O filme da vencedora dos Óscares de 2010 com The Hurt Locker (Estado de Guerra), com Jessica Chastain, Jason Clarke e Kyle Chandler nos principais papéis, não será “um hino à glória dos bravos rapazes que, naquela noite de Maio de 2011, saíram incólumes do Paquistão com o cadáver de Bin Laden e muitos quilos de preciosos arquivos” (como se poderia pensar), mas, ao mostrar o que não foi “uma saga heróica” mas uma “expressão funda de desgosto perante a realidade do terrorismo e do contraterrorismo (com as suas cenas de tortura”, torna-se – na opinião do crítico J.L.R. in Actual – “um grande filme de espionagem, sem glamour, sem louros, com riscos extremos e as mãos sujas até ao fundo da alma”.

   Eis o filme-anúncio :

 

 

220px-Matteo_Garrone_croppedReality_temp2   Quanto ao filme italo/francês (Grande Prémio do Júri em Cannes 2012), com Aniello Arena, Loredana Simioli e Nando Paone como protagonistas-chave, tratar-se-á duma commedia all’italiana tipo Dino Risi ou Mario Monicelli mas onde Matteo Garrone (segundo V.B.M., crítico no Actual) se “distingue pela forma como recusa a simples revisitação nostálgica para devolver ao género uma função crítica que sempre foi a sua, nomeadamente colocando no seu centro a história de um vendedor de peixe e pai de família napolitano que se deixa obcecar pelo seu desejo de participar no Big Brother … e abraçando, de modo caloroso, a vida do protagonista e da sua família … mergulhando com eles nas ruas e nos apartamentos de Nápoles, sofrendo com eles até final…”.

   Veja-se o respectivo trailer :

 

 

   Por último, lembramos – como regra que há muito estabelecemos – que estão em final de exibição encerrando no próximo Sábado 2 de Fevereiro três mostras de tipo diferentes e em galerias distintas.

jorge queirozfotoK_Queiroz_Debaixo das pedras   Na Fundação Carmona e Costa  (Rua Soeiro Pereira Gomes, Lte 1, 6º A/C/D, Bairro do Rego / Bairro Santos) encontra-se exposto Debaixo das pedras da calçada, a praia !” de Jorge Queiroz que reúne, em cinco salas, obras realizadas de 2009 a 2012, algumas já mostradas fora de portas, em Bruxelas e Madrid, outras inéditas, como é o caso do padrão criado pelo artista, materializado no espaço sob a forma de um papel de parede que invade o espaço e sobre o qual são apresentados a maioria dos trabalhos.

   “… O desenho é, em Debaixo das pedras da calçada, a praia!, transversal a toda a exposição. A linha do lápis, desenhada quase compulsivamente, como uma necessidade ininterrupta, atravessa as salas, os desenhos, saltando de moldura em moldura, de parede em parede. …  A obra de Jorge Queiroz remete-nos para o universo do fantástico, de narrativas perdidas e achadas, de fragmentos e pormenores, de figuras e fantasmas, entre paisagens oníricas e desertos obscuros … O universo surrealista, do qual Queiroz herda algumas das suas mais marcantes características, traz consigo uma forte carga simbólica e subjectiva. As personagens e estórias que narra fogem do domínio da linguagem e do tangível, estabelecendo tempos e espaços que se perdem entre fundo e forma, entre todos e pormenores, revirando interiores e exteriores … Não sendo uma exposição extensa, é, em compensação, rica e densa. Em cada desenho, o observador perde-se na sobreposição das técnicas do desenho e da pintura a guache, na linha e na mancha, na luz e na sombra, na forma e no vazio …”.

          (excertos retirados, agradecendo, à crítica de Patrícia Trindade em ArteCapital)

   A exposição está aberta Quarta a Sábado das 15h às 20h.

 

                untitled  25958

   Noutro espaço, o do Panóptico do Hospital Miguel Bombarda (Rua Dr. Almeida Amaral), localiza-se a exposição “Hospital”, onde pela primeira vez em Portugal é abordado o tema do hospital numa grande exposição de fotografia e vídeo.

exposicao_hospital   Diz o seu folheto de apresentação : “Na verdade, qualquer artista encontra no hospital matéria para a sua obra:  o hospital é o local onde acontece de forma mais intensa o confronto entre a vida e a morte, é o sítio do nascimento e aquele para onde a morte se deslocou, onde o corpo e os órgãos se degradam e se regeneram … é um palco privilegiado de observação da natureza humana, … mas o hospital é também edifício, ruína, máquina, tecnologia, arquivo, memória, face, gesto, doença, incapacidade, sequela, embrião, corpo, cadáver, claridade, escuridão, heroísmo, fraqueza, humanidade, desumanidade, alegria, tristeza, desespero…”

hospital04   O objectivo foi reunir alguns dos melhores artistas portugueses da actualidade − André Cepeda, André Gomes, André Príncipe, António Júlio Duarte, Augusto Alves da Silva, Augusto Brázio, Catarina Botelho, Duarte Amaral Netto, Inês d`Orey, João Paulo Serafim, João Serra, Jordi Burch, Jorge Molder, José Maçãs de Carvalho, José Pedro Cortes, Luísa Ferreira, Manuel Valente Alves, Maria José Palla, Paulo Catrica, Pedro Letria, Pedro Rio, Pedro Ventura, Sandra Rocha, Valter Vinagre−, que têm a fotografia como meio privilegiado de expressão, para concitar no mesmo espaço uma diversidade de perspectivas sobre um objecto de abordagem artística tão estimulante como é o hospital.

hospital06   Acontece no Panóptico, um antigo pavilhão de alta segurança, onde eram internados os doentes mentais considerados perigosos, cuja concepção partira do filósofo inglês Jeremy Bentham (1748-1832), que concebera um edifício circular com múltiplas celas e uma torre central de observação como modelo de prisão (ou manicómio) que permitia a observação total da vida de um individuo com intuito disciplinador. O panóptico do Hospital Miguel Bombarda foi construído em 1896, com um projecto do arquitecto José Maria Nepomuceno (1836-1895) e esteve a funcionar, como o pavilhão de alta segurança, até ao ano 2000. Em 2001 foi classificado como imóvel de interesse público, pelo Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR) e, em 2003, foi transformado em museu, reunindo material iconográfico desde primitivo Hospital de Rilhafoles.

   A exposição estará aberta de Terças a Sábados, das 12h às 18h, sendo a entrada gratuita.

   Da terceira, na Casa-Museu Medeiros de Almeida, falaremos amanhã.

 

(para as razões desta nova forma de Agenda ler aqui ; consultar a agenda de Domingo aqui)

 

 

 

1 Comment

Leave a Reply