A HISTÓRIA PODE DAR ALGUMA AJUDA – IX – “Se a queixume se socorre, – por Carlos Leça da Veiga

VI – “Se a queixume se socorre,

        lança no fogo mais lenha,   

                                                              não há mal que lhe não venha”                                               

Dia após dia, sucedem-se queixumes sem fim – aliás justíssimos – sobre os acontecimentos da vida política portuguesa que, por decisão deliberada do Governo, estão a empurrar a população para um imenso empobrecimento e com esse procedimento desonesto poder colocá-la às ordens discricionárias dos interesses do capital financeiro.

Se afirmar-se uma oposição ao Governo nada tem de incorrecto, o que verdadeiramente importa é apresentarem-se projectos de solução que apontem para um outro modo do viver democrático que, institucionalmente, recuse e impeça a actual asfixia financeira e politica da população.

Tem de exigir-se o possível e o exequível, desde que seja bastante para colocar um fim à liquidação, em curso, das justas posições políticas e sociais conquistadas pela população no pós-25 de Abril.

No mais fundamental, o que está em causa por ser imensamente transformador, é propor-se a construção duma Democracia constitucionalmente muito mais aperfeiçoada que, como tal, garanta uma constante participação cívica conseguida por intermédio duma intimidade institucional efectiva com que, de facto, seja possível definir-se, momento a momento, a vontade política nacional. Tem de exigir-se que qualquer eleitor tenha o direito de ser eleito e sem qualquer intermediação partidária. Têm de assegurar-se, em definitivo, os direitos sociais e, também, ao contrário dos dias de hoje, importa ficar-se com a certeza que o texto constitucional contem os mecanismos necessários a uma rigorosa separação das Órgãos de Soberania que, cada qual e no seu conjunto, definem as funções do poder do Estado.

Do modelo constitucional em curso, dele, já basta poder dizer-se não estar a corresponder às exigências sociais da população. Não dá as garantias sociais que a população mais necessita e tudo porque, em larga medida, prossegue na conformidade inaceitável de quanto foi modelado nos idos dos séculos XIII pela Magna Carta do Reino da Inglaterra e mais tarde, no final do século XVIII, pelas duas Constituições do Estado Francês.

Desde o discurso parlamentar que ninguém suporta, àquele das vozes populares mais sofridas passando, por igual, pela verborreia insuportável dos comentadores, só são ouvidos queixumes mas, jamais, uma qualquer alternativa com possibilidades de ser bem sucedida. Só há arrufos de partidocratas inconsequentes; só há sonhos para coligar o impossível; só há fugas para a frente feitas para desculpar os mais reles oportunismos e, muito grave, face ao vazio real duma oposição parlamentar vê-se nascer um indigno colaboracionismo político.

Em São Bento há uma legitimação activa e constante duma Governação que, dia a dia, comete atentados sucessivos contra a Soberania, a Independência Nacional e pratica uma insensibilidade social profundamente desumana.

O arrojo político está a fazer sentir-se cada vez mais

“Tentar outra vez; falhar outra vez; falhar melhor”, ensinou Samuel Beckett.

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