NOVAS VIAGENS NA MINHA TERRA – Série II – Capítulo 89 – por Manuela Degerine

 

 O eucaliptal da Atalaia (continuação II)

Em 2011 não passei por aqui, tenho disto a certeza, cumpre portanto eu retroceder, verificar à esquerda e à direita: talvez o sinal caísse com a árvore. Examino cada um dos caminhos até ao primeiro cruzamento, se não há tabuleta, não devo encontrar-me no de Santiago, pois seria grande azar desaparecerem dois sinais seguidos, deste modo percorro vários quilómetros, creio, embora a impressão possa ser desproporcionada, até recuar ao sítio onde, logo a seguir à ponte por cima da auto-estrada, uma seta amarela se escondeu na vegetação.

Bebo a garrafa de água. Como o último pedaço de chocolate. Subo – lentamente – a encosta. Gastei uma energia descomunal… São mais de três horas, às seis é de noite. E se a tabuleta tivesse caído com o eucalipto?

Avisto a casa situada a um quilómetro de Grou quando sinto as primeiras gotas de chuva… A chegada a Tomar anuncia-se cada vez pior. O homem que em 2011 me encheu a garrafa de água anda hoje a guardar as vacas. Bonito prado. Lindos animais! Há um touro cor de laranja… Que pelagem, que tamanho, que vivacidade… (Foge quando vê a máquina fotográfica.) As fêmeas são mansas e curiosas. Esta até aceita um ramo de margaridas: delicioso. Entretanto o pastor continua a virar-me costas. Digo “boa tarde”, grito “boa tarde”. Gostava de falar com ele… Não ouve.

Atravesso um país onde se morre como no tempo da monarquia; os homens e mulheres que aqui continuam a trabalhar deixaram de ter dinheiro para medicamentos e resignam-se a considerar os otorrinos, os dentistas, os cardiologistas como privilégios de ricos. Constituem uma sociedade que os sociólogos não estudam. Os meios de comunicação descobrem-nos quando há incêndios – chorando o que os antepassados criaram e com tanto esforço eles conseguiram preservar – mas esquecem-nos muito antes do rescaldo. São vidas que os ministros e presidentes ignoram sem deixarem todavia de continuar a piorá-las. Para viver felizes, vivamos escondidos? Nem a moral do grilo lhes vale.

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