A PALAVRA É UMA MÁSCARA E A OPINIÃO UM ESCONDERIJO – por António Mão de Ferro

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Um amigo entra no atelier de um pintor, depara-se com o artista em frente do cavalete a pintar um quadro e pergunta-lhe o que representa aquilo que pinta. Obtém como resposta: – Ainda não sei. Depois de acabar o quadro logo se vê.

Esta história faz lembrar os tempos que atravessamos em que a objetividade se afasta tanto mais quanto se pretende alcançá-la. Na maior parte das situações, a objetividade é inatingível ou irrelevante e, na pior, simplesmente não existe. Esta dificuldade de operacionalizar as coisas advém do facto de muitas vezes se representar um papel em vez de se ser o próprio. Quem sou eu? Não sei, depende da situação em que estiver envolvido. Esta será a resposta se se for sincero.

Parece achar-se normal que os preconceitos e interesses se traduzam em ideias e se difundam nos pensamentos e nas ações independentemente da sua concretização. É-se diferente dos outros, mas há situações em que se é como os outros. A pessoa é o somatório dos papéis que desempenha. É uma quando está a representar e outra como é. Pensa como pensa, porque também é como é. Como poderá pensar de modo diferente das vivências em que participa, das oportunidades que lhe surgem e das dificuldades que tem que vencer?

Mas, se se pensar bem, que utilidade tem aquilo que atrás dissemos? Sim se as coisas são como são, para quê perder o tempo de quem escreve e de quem lê?!

Vendo porém as coisas de outro modo: a interrogação é o motor da atividade humana, mas, há sempre um mas, as perguntas que se fazem e as respostas que se dão não estão desligadas do ambiente em que se está inserido. E em muitos casos, a pobreza de certos postos de trabalho é tão grande, e as normas tão apertadas, que não estimulam a descoberta, nem as novas maneiras de organizar os processos de trabalho. As grandes organizações pensam pelos colaboradores mesmo que o trabalho se desenvolva em países diferentes daqueles onde as normas são elaboradas. É por isso que muitos acabam por se acomodar e deixam de se questionar. Não admira por isso que muitas vezes a palavra seja uma máscara e a opinião um esconderijo.

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