RETRATOS, IMAGENS, SÍNTESE DOS EFEITOS DA CRISE DA ZONA EURO SOBRE CADA PAÍS

Selecção e tradução por Júlio Marques Mota

mapa itália

Por falta de governo, Giorgio Napolitano prolonga o calvário de Mario Monti

Philippe Ridet

Uma só certeza: Mario Monti, o actual presidente do Conselho responsável pelos assuntos correntes vai ter que esperar antes de deixar o Palazzo Chigi para onde se mudou em Novembro de 2011. “Este governo está ansioso para ser dispensado das suas funções”, disse ele, cansado e desiludido, na última semana no Parlamento, onde foi para ter de se explicar quanto à demissão surpresa do seu ministro dos Negócios Estrangeiros. Mas no seu discurso, sábado, 30 de Março, o Presidente da República, Giorgio Napolitano claramente disse não (por agora) à sua tentação de Veneza (ou de Bruxelas): “o governo se bem que demissionário continua em funções e não foi posto em minoria pelo Parlamento”. É aliás a única afirmação mais ou menos compreensível do seu discurso.

Se a situação não fosse tão grave para a terceira economia da zona euro em recessão desde há 6 trimestres consecutivos (um recorde na Europa) a situação até poderia parecer divertida. Poder-se-ia mesmo ver um pouco de malícia por parte do Presidente Napolitano que não apreciou nada a demissão de Mário Monti em Dezembro de 2012, depois de ser ameaçado com uma moção de censura por parte do Povo da Liberdade, o partido fundado por Silvio Berlusconi.

Partido da flor na espingarda à conquista de um eleitorado de centro-direita não berluconista, confundindo popularidade das sondagens e intenções de voto, pretensioso e inexperiente, incentivado por todos aqueles que confiaram nele para salvarem os seus lugares, Monti tem concentrado sobre a sua pessoa todas as críticas feitas à Europa e contra a austeridade. Ele regressou da sua primeira (e provavelmente única) corrida eleitoral, amargurado e derrotado. E totalmente inútil para pesar no grande jogo político em curso, senão ao lugar em que Napolitano o confirmou por um tempo indeterminado. “ Tu quiseste a bicicleta, então pedala agora”, é como dizem os italianos.

Na véspera da Páscoa, a Via Sacra dos professores no governo continua, pois para maior infelicidade dos seus membros, passados de moda tão depressa ou quase como o estilo de Gangnam. Um consolo contudo: Napolitano sabe que Monti permanece – com ou sem razão – um valor seguro sobre a cena europeia e para os mercados, como estes cantores fora de moda no seu país mas que continuam por razões inexplicáveis a ter sucesso na América do Sul ou no Japão. A sua crueldade — se crueldade aqui existe – é também um sinal da confiança que ainda atribui à ” marca Monti “. Ver-se-á na terça-feira na abertura dos mercados se ela tem ainda fundamento .

Quanto ao resto, tudo é muito menos claro. Tomando nota do insucesso de Pierluigi Bersani, o líder da coligação de esquerda – com a maioria na Câmara, mas com a minoria no Senado – para encontrar uma maioria de modo a formar governo, o antigo Presidente (com a idade de 88 anos em Junho), cujo mandato termina no dia 15 de maio, disse que estava preparado para trabalhar até o último dia para encontrar uma solução para a crise política e institucional. Não podendo dissolver as duas Câmaras saídas das últimas eleições, ele anunciou a criação de dois grupos de trabalho, entidades politicamente diferentes para desenvolver uma espécie de programa mínimo comum de reformas. Depois do que ele ou o seu sucessor, irá designar a personalidade para o colocar em prática.

Philippe Ridet, Faute de gouvernement, Giorgio Napolitano prolonge le calvaire de Mario Monti,  Le Monde, 30 de Março de 2013.

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