LIVRO & LIVROS PAUL AUSTER – por Carlos Loures

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Nesta rubrica que, entre as dez e as onze, nos fala de livros, temos exposto ideias sobre o livro em geral, sobre um detreminado livro que lemos… Mas faltava ainda alguém vir falar de um livro que não leu – Diário de Inverno, de Paul Auster – um livro que não me apetece ler.

Sou um leitor fiel de Paul Auster. Fiel, mas não incondicional, pois não gostei de todos os seus romances. Porém, até aqueles de que gosto menos têm coisas que meImagem1 agradam. É a relação que tenho com a obra de Saramago, embora, a meu ver, o nosso Nobel fosse bastante mais irregular do que Auster. E, tal como acontecia com Saramago, algumas posições do cidadão Auster desiludem-me. Saramago perdia toda a lucidez quando falava da integração (para ele inevitável) de Portugal no estado espanhol. Auster desilude quando defende um indefensável Obama, que se tem mostrado como um oportunista sem escrúpulos, capaz de todas as felonias que os mais empedernidos republicanos têm defendido – Barack Obama quer demonstrar aos falcões do Pentágono e aos senhores do poder financeiro que, apesar de ser preto, é capaz de se portar como qualquer branco reaccionário.

Numa entrevista dada há tempos ao correspondente do El País, Paul Auster, empenhado na promoção de Diário de Inverno, sua obra mais recente, depois de expender algumas banalidades sobre o amor familiar, pois a família, disse ele, é um dos temas transversais que atravessam o livro. Porém, isso “está a mudar, pois as pessoas já não se casam como antes, perdeu-se o sentimento de sacramento”. E depois de ter falado sobre o romance que está a promover, falou da política norte-americana, defendendo que “agora é altura em que, mais do que nunca, é preciso apoiar Barack Obama”. Admite que sabía quando votou que era “un moderado, que não era tão progressista como seria desejável, mas embora Obama “se tenha enganado”, do outro lado, no Partido Republicano, só se encontram imbecis- “não sabem do que falam e nada têm para oferecer ao país”. Por isso e pelo seu hierático optimismo, o escritor prevé uma ampla vitória de Obama nas eleições presidenciais de Novembro.

Numa entrevista anterior Auster alertava para “uma guerra civil cultural”que, segundo ele, continua a existir. Na sua opinião, o Partido Republicano “está mais à direita e está mais obstrucionista no Congresso do que nunca. E continuam a atacar Obama – querem destruí-lo. Em certa medida, a cultura política americana, assenta no diálogo entre os dois grandes partidos e Auster sublinha que isto já não se dá porque “não são razoáveis”. Uma cosa leva a outra. É o fim da política? Qué opinão tem dos indignados e de Occupy Wall Street?

Não acredita que acabe a política, nem o capitalismo. No entanto, “é evidente que é preciso repensar o capitalismo e o mundo Ocidental”. Desilusão. Como pode um tipo tão lúcido usar todos estes antolhos?

Bem sei que um escritor não deve ser avaliado pelas suas posições políticas.

Mas…

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