MULHERES – A VIOLÊNCIA CONTINUA – de Rachel Gutiérrez – Apresentação por Clara Castilho

Imagem1Durante os próximos dias, sempre neste espaço horário das 14 horas, publicaremos o livro-manifesto de Rachel Gutiérrez, Mulheres – A Violência Continua. Hoje, a argonauta (e psicóloga) Clara Castilho fará uma sucinta apresentação da obra aos colaboradores e visitantes de A Viagem dos Argonautas.

Apresentação da obra aos leitores de A Viagem dos Argonautas – por Clara Castilho

Rachel Gutiérrez é tradutora, escritora, poetisa, conferencista e pianista com formação clássica. E uma pessoa atenta ao que se passa à sua volta. Atenta e que reage intervindo na sociedade. Quando gosta de uma forma, quando não gosta levando-nos atrás dos seus dizeres, atrás da sua actividade. Reage e diz ou escreve. É o caso da obra que iremos apresentar durante os próximos dias.

Rachel Gutiérrez foi já apresentada no nosso blogue. Mas recordamos aqui o essencial da sua biografia – nasceu em 1935 em Sant’Ana do Livramento (Rio Grande do Sul), é formada em Filosofia, fez Mestrado no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O projeto de tese de doutoramento, sobre a estética da poesia na obra de Lou Andreas Salomé, viria a constituir o tema de uma de suas peças teatrais, assim como sobre o pensamento na obra de Clarice Lispector.

 Rachel começou a traduzir na década de 1960, de obras do inglês, italiano, espanhol, francês, alemão, espanhol. Viveu na Áustria, França e Alemanha. Na década de 1950, estudou piano com o maestro Bruno Seidlhofer.

 Na década de 1980 fundou, com algumas amigas, o grupo de reflexão feminista Mulherando, e como representante do Movimento Feminista foi a primeira mulher a participar de uma candidatura majoritária ¬ para vice-governador(a) ¬ nas eleições cariocas de 1986.

 Em 1994, criou, com Ester Schwartz, a Associação dos Leitores e Amigos de Clarice Lispector, da qual é presidente. Durante sete anos foi consultora editorial da Editora Rocco para a Coleção Gênero Plural. Hoje, Rachel dedica-se mais aos seus próprios textos, voltados tanto para a literatura como para o teatro.

 Entre suas obras publicadas, destaca-se o seu ensaio O Feminismo é um Humanismo, (uma obra de referência no âmbito da luta pela plena igualdade de géneros, edição Antares-Nobel, Rio/São Paulo, 1985, com segunda edição foi lançada em 2012). Outras obras: Mulheres em movimento, homens perplexos, (coletânea de artigos, da Madana, Rio, 1987); Comigos de mim ( poesia, na Massao Ohno Editor, São Paulo, 1995); Palavra de Mulher.Cantare (peça de teatro, Booklink, Rio, 2002) e Narcisismo e Poesia , (ensaios extemporâneos, Booklink, Rio, 2005). Traduziu para português, entre muitos outros, obras de David Hume, Hélène Cixous e Antonio Tabucchi.

“A VIOLÊNCIA DA ESPERANÇA” poderia ser outro título para este livro. Livro  que se lê de um fôlego. Com o incómodo que a situação implica. Damos voltas na cadeira, lembramos notícias que já ouvimos mas que, postas todas juntas nos indignam e inquietam.

No 1º capítulo – “As mulheres no Mundo” revemos as notícias de todo o mundo. Para além das mais aparatosas, Rachel fala-nos também da lei brasileira “Maria da Penha” que visa lutar contra a violência doméstica. Aquela que não vem nos jornais, aquela que se sofre em silêncio e não se ousa denunciar, aquela em que a mulher vítima necessita de muito apoio para arranjar coragem de enfrentar a vida noutros moldes.

No 2º capítulo “O âmago da questão”, Rachel reflecte sobre as causas desta situação: “O sexismo é o “racismo” do homem em relação à mulher. Mas o sexismo não é causa, é consequência.” Aí explica o conceito de androcentrismo.

No 3º capítulo analisa as “Raízes da dominação e da violência” e a relação entre os dois sexos, desde a Grécia antiga, a Roma, ao cristianismo, ao islamismo.

No 4º capítulo, confrontamos com o título “ Da perplexidade à acção”. Aí defende que em primeiro lugar, devemos exigir da ONU, e de todos os países signatários, que a Declaração Universal dos Direitos Humanos tenha um alcance jurídico mundial e não apenas declaratório.
Acrescenta: “Uma educação sexual e social verdadeira se faz urgente em todas as escolas, desde o jardim da infância, desde antes, talvez, desde as creches”.

Relata-nos uma situação contada por Roger Garaudy (O Ocidente é um Acidente, publicado no Brasil na década de 1970.):

“Trata-se da educação que um índio peruano costuma dar ao seu filho quando ele chega à chamada “idade da razão”, por volta dos 7 anos. Leva-o a um milharal e diz: “Para que o milho nasça, é preciso que haja terra, água (a chuva) e a luz do sol. Então, ao colhermos o milho, devemos agradecer à terra, à água e ao sol.” Depois, apresenta-o a outro indiozinho do seu tamanho e diz: “Ele é tu mesmo, só com outra cara.” Assim, aprendemos, com esse índio peruano, que o respeito à natureza, a sociabilidade e a parceria são coisas simples e claras como um dia de sol e um milharal.”

Este é um relato que me fez muito sentido. Corresponde, talvez, ao que em psicologia definimos como “empatia”.
Propõe ainda Rachel Gutiérrez : “Que se ensine a compaixão em todas as escolas!”

Acaba afirmando que “Precisamos acreditar nessa mutação. Repito, com Stéphane Hessel, – em seu panfleto Indignai-vos! –, o verso de Apollinaire: ”Como a esperança é violenta.” Só essa violência quero admitir e partilhar com todas as mulheres e todos os homens de um mundo melhor, a violência da Esperança”.

Como mulher mais sinto esta obra, com ela me identifico, com ela quero partir na sua divulgação. É que, se somos vítimas, também está nas nossas mãos tornarmos o mundo diferente. Afinal, é nos nossos braços que os homens em ponto pequeno crescem…

Amanhã, às 14 horas, iniciamos a publicação de MULHERES – A violência continua, de Rachel Gutiérrez

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