EDITORIAL: NEGÓCIOS DA DÍVIDA

Diário de Bordo - II

 

No Expresso de ontem, Fernando Madrinha, na sua coluna, incluiu uma referência, sob o título Negócios da Dívida, ao programa da SIC Negócios da Semana, de José Gomes Ferreira, de 1 de Maio último, em que este perguntou a João Moreira Rato, presidente do IGCP, porque não podem os portugueses comprar dívida pública no mercado primário? José Gomes Ferreira não obteve resposta.

Trata-se claramente de uma questão muito séria. É mais um aspecto em que o peso excessivo da banca e dos grupos económicos na vida económica e política prejudica o país. Não é preciso ter uma visão muito radical, nem sequer ser de esquerda, para concordar com isso. Obviamente que não serão muitos os portugueses com capacidade para adquirir dívida pública, mesmo em quantidade muito pequena. A crise, isto é, a ofensiva em curso contra os trabalhadores e os reformados/pensionistas/aposentados tem apertado bastante, e a maioria dos portugueses que ainda vão tendo meios para se aguentar no dia a dia está debaixo de pressão para acudir a familiares e amigos que não estão a conseguir aguentar (para citar o banqueiro Ulrich – esperemos que não queira cobrar direitos de autor). De qualquer modo seria um contributo importante, até pelo seu valor simbólico. E chame-se a atenção para o facto de o mercado de certificados de aforro estar em recuperação. Não muito grande, que isso não é possível, mas com algum significado, veja-se em: http://www.deco.proteste.pt/dinheiro/depositos-a-prazo/noticia/certificados-de-aforro-rendimento-atrai-investidores.

Os potenciais investidores (esperemos que esteja correcto o uso da terminologia consagrada) poderiam auferir remunerações muito superiores adquirindo dívida pública. Qual a razão porque não é permitido ao cidadão comum adquiri-la directamente no mercado?

Evidentemente que o problema da dívida pública é muito mais lato. A grande prioridade é desmistificá-la, esclarecendo como chegou ao ponto a que chegou, e quem são os verdadeiros responsáveis por ela. E imediatamente a seguir afastar estes dos centros de decisão. É para isso que temos de trabalhar todos os dias. Perceber porque é que o cidadão português comum não pode adquirir dívida pública no mercado primário é um contributo para isso.

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