“PREVENIR A DOENÇA E PROMOVER A SAÚDE” – OBRA PÓSTUMA DE JOÃO DOS SANTOS por Clara Castilho

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O psicanalista Coimbra de Matos, no prefácio da obra “Prevenir a Doença e Promover a Saúde, lançadaImagem1 no dia 4 de Junho, na bonita sala de arquivo da Câmara Municipal de Lisboa, cheia de amigos, familiares, discípulos e jovens desejosos de beber os ensinamentos de João dos Santos, escreve: “O saber feito vem nos livros. Como produzir conhecimento, isso aprende-se com mestres de carne e osso, alma e coragem, abertos à experiência, tolerantes à dúvida e sempre em busca de evidências ainda ocultas.

São estes mestres-aprendizes que deixam uma herança cultural, atingindo assim uma imortalidade simbólica. Continuam vivos no pensamento – e no coração – dos discípulos que com eles aprenderam e conviveram; todos diferentes, já que o verdadeiro mestres só deixa uma marca – a de uma doce saudade, temperada a fogo pelo entusiasmo na descoberta. São muitos os discípulos de João dos Santos, pois ele não ensinava de cátedra, espalhava-se pela multidão dos seus colaboradores. Não tinha alunos; tinha participantes, activos e entusiastas, no seu trabalho. Era um Homem”.

 

No apontamento que aqui deixo, penso ser importante esta faceta do Mestre. Que partilhou e continua a partilhar. Ler a sua obra tem em nós efeitos de reflexão sobre a nossa prática, situando-nos no passado, mas também no futuro, como afirmou o Professor Carlos Neto, Presidente da Faculdade de Motricidade Humana (que atribuiu a João dos Santos o título de Doutor Honoris Causa): “com a leitura deste livro testei em espelho o que tinha andado a fazer e vi que algumas coisas eram erradas. Só a ver o erro é que se aprende”. Classificou a Obra de João dos Santos como vasta e intemporal.

O escritor Mário de Carvalho deu o seu testemunho pessoal de relação com João dos Santos, num exemplo de solidariedade dos homens livres, em que João dos santos o visitou, no ano de 1971, em Caxias, onde se encontrava como preso político. A visita tinha sido a pedido da família do escritor, preocupada com a sua saúde, depois de onze dias de privação de sono. João dos Santos, com a sua fleuma, paciência educada, levou-lhe, sem palavras, o apelo à resistência e à coragem. Considerou que esta visita tinha um duplo significado: o da coragem de João dos Santos em se expor desta forma, depois de ter sido perseguido e impedido de trabalhar nos serviços do estado e do reconhecimento do seu prestígio de grande médico e intelectual.

Pessoalmente, lembro a sua resistência face à dolorosa incapacidade que a doença lhe deixava, continuando sempre a trabalhar, através de estratégias alternativas que a colmatassem. É com ternura que lembro o seu último dia de vida, que com ele partilhei, quando disse ter finalizado a sua última obra “A Casa da Praia – o Psicanalista na Escola ”.

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