Acabei de ler um livro que recomendo vivamente aos leitores, “Porque Falham as Nações”, que me ajudou imenso a compreender as causas do atraso português no contexto da União Europeia e de outras regiões do globo. Livro publicado recentemente e escrito por dois académicos norte americanos, Daron Acemoglu do MIT e James A. Robinson de Harvard, que estudaram séculos da história humana nas suas diferenças fases e transformações, desde os primórdios da humanidade até aos nossos dias, região por região, bem como as causas do seu desenvolvimento ou atraso económico.
A tese defendida no livro é surpreendentemente simples, negando o chamado determinismo histórico e considerando que o desenvolvimento resulta antes da qualidade das instituições de cada país. De facto, a nova teoria não descarta mesmo a existência de acontecimentos acidentais ou fortuitos, para explicar os atrasos e os avanços na história humana. Deixa também de lado algumas teorias conhecidas que justificam as diferenças de desenvolvimento entre países por razões do clima, da geografia, dos recursos naturais e da cultura.
Os autores dividem as instituições políticas de cada país ou região entre extrativas, as que se dedicam a extrair da sociedade a riqueza produzida,exclusivamente a favor dos poderosos ou de grupos restitos próximos do poder politico e,nesse caso, a prazo, o desenvolvimento não é possível, ou inclusivas, quando as instituições são pluralistas e abrangentes, livres e tanto quanto possível democráticas, onde o direito de propriedade e de iniciativa e o acesso a um sistema de justiça em que todos são verdadeiramente iguais perante a lei. Salientado que a democracia é uma condição necessária mas não suficiente.
Da tese proposta resultam duas outras condições: a existência de uma direcção centralizada em cada pais ou região, reconhecendo a impossibilidade de progresso social e económico quando o poder se encontra pulverizado em centros de poder dispersos que se digladiam entre si; que seja possível o que os autores chamam a destruição criativa, isto é,a possibilidade de substituição do velho pelo novo, seja através de instituições progressivamente mais inclusivas, das tecnologias ou das ideias em geral.
No fundo, a tese baseia-se na luta entre os sectores da sociedade que beneficiam das instituições extractivas existentes e resistem à mudança e os sectores que lutam pela alteração das regras que os prejudicam ou exploram. Sendo que a construção de instituições crescentemente mais inclusivas é o resultado dessa luta entre sectores da sociedade com interesses antagónicos, em que a vitória de um sector é quase sempre o resultado de alianças ocasionais ou permanentes, que potenciam a mudança.
O livro usa a Inglaterra como o paradigma de uma evolução histórica em direcção a instituições crescentemente mais inclusivas, desde a Magna Carta e a Revolução Gloriosa à primeira Revolução Industrial. Evolução que teve uma grande influência nas instituições dos Estados Unidos, do Canadá, da Austrália e da Nova Zelândia, influência que foi usada em sentido contrário nos países dominados colonialmente de África, da América do Sul e da Ásia, onde não existiam poderes centralizados ou sectores da sociedade capazes de resistir à criação de instituições extractivas. É interessante verificar que na maioria dos casos a descolonização conduziu a uma mudança do poder político nos diferentes países, mas raramente resultou na alteração das instituições extractivas. O caso, é que os novos senhores usam essas instituições a seu favor, tornando-as frequentemente ainda mais extractivas.
Os autores analisam várias civilizações e dezenas de países e de regiões dos cinco continentes, em diferentes fases da história humana, do Egipto aos Incas, passando pelos povos primitivos de África, para demonstrar que a mesma evolução e as mesmas causas estão na origem de avanços e recuos civilizacionais em diferentes épocas. Da mesma forma analisam as diferenças entre a Europa Ocidental e Oriental, entre a França e a Inglaterra e entre estes países e a Espanha e Portugal.
Trata-se de um livro a não perder. O Financial Times chamou-lhe o “melhor livro do ano”, por mim chamar-lhe-ia o melhor livro da década.
Boa referência de leitura. Mas, tal como “a democracia”, também as instituições serão “condição necessária mas não suficiente”. Só seriam “suficiente” se pudessem ser implementadas – na multiplicidade e diversidade do quotidiano, além do papel do Diário da República… – mecânica ou deterministamente. Uma vez que se negue o determinismo na ação individual, admite-se a liberdade de i) interpretar e de ii) se empenhar vs. ignorar ou até obstruir a lei (no sentido interpretado). Ora essas interpretações, e essas mobilizações, dependem dos princípios cognitivos e dos valores da maioria da população que dá corpo às instituições. Ou seja, da cultura. Os (poucos) argumentos que conheço de Acemoglu e de Robinson, aliás, são logicamente inválidos – têm formas enviesadas – ao tentarem escamotear a condição cultural em vista da desejável (mas julgo que impossível) simplicidade da condição institucional apenas
Prezado, gostaria de lhe compartilhar issa crítica do livro Por que falham as nações (em espanhol, tem versão em inglês mas infelizmente ainda não em português): http://el-pareja.blogspot.com/2018/03/171-why-professors-fail.html Atte.
Boa referência de leitura. Mas, tal como “a democracia”, também as instituições serão “condição necessária mas não suficiente”. Só seriam “suficiente” se pudessem ser implementadas – na multiplicidade e diversidade do quotidiano, além do papel do Diário da República… – mecânica ou deterministamente. Uma vez que se negue o determinismo na ação individual, admite-se a liberdade de i) interpretar e de ii) se empenhar vs. ignorar ou até obstruir a lei (no sentido interpretado). Ora essas interpretações, e essas mobilizações, dependem dos princípios cognitivos e dos valores da maioria da população que dá corpo às instituições. Ou seja, da cultura. Os (poucos) argumentos que conheço de Acemoglu e de Robinson, aliás, são logicamente inválidos – têm formas enviesadas – ao tentarem escamotear a condição cultural em vista da desejável (mas julgo que impossível) simplicidade da condição institucional apenas