Dado que uma anomalia técnica nos impediu de publicar a segunda parte do episódio e considerando a importância do que aqui é revelado, publicamos todo o texto desde o seu início.
Na sua tranquila pateira privada, o equivalente a uma datcha, o Pato passa as suas merecidas férias, na companhia da prima e de uma ninhada de priminhos que insistem em tratar o Pato por kwá kwá – ou seja – papá. As visitas têm sido frequentes – um pato brasileiro veio pela manhã, esteve horas a conversar com o nosso herói. Quando a prima veio perguntar ao visitante se ficava para almoçar, o amigo brasileiro, respondeu que não, pois tinha de ir integrar-se num bando de patos-selvagens que ia atravessar o Atlântico. O Pato ficou apreensivo e quando o Professor apareceu, ainda estava pensativo. O Professor, descalçou-se e mergulhou os pés nas águas da pateira:
– Está-se bem aqui… – e acrescentou – há alguma coisa que se beba?
– Há aí uma garrafa… mas não é de Brejoeira – avisou – e para a prima pediu – kwá kwá.
– Conde de Amarante – leu o Professor no rótulo – bebeu um gole – Não é má… bebe-se. – e para o Pato – Não me entregaste a carta ao António José Seguro.
– Não podia fazer uma coisa dessas.
– Não podias porquê?
– Tenho um acordo com os CTT.
– Ah sim?
– Pois. Eu não entrego correspondência e os CTT…
– Não comem milho painço…
– Mau… mau. Os CTT não fazem investigação criminal.
– Então tu agora fazes investigação criminal? – o Professor riu-se – Essa é boa.
O inspector interrompeu o previsível início de um torneio de picardias.
– É boa, mas é verdade – disse o Inspector Pais que vinha a chegar. Descalçou-se e, sentando-se ao lado do Professor, mergulhou também os pés na água da pateira.
– Pastéis de bacalhau, não há – avisou o Pato.
– Isso era na história do pastor alemão. Enjoei os pastéis de bacalhau. Pedi ao autor para de futuro me poupar a esse tormento…
– E ele? – perguntou o Professor, enquanto bebia mais um gole de Conde de Amarante.
– Mudou para rissóis de camarão.
No meio da pateira os oito patinhos faziam uma enorme algazarra em torno de um coelho de borracha. O inspector perguntou:
– São teus…
– São meus primos… em terceiro grau.
– Pois, pois – o Professor voltou-se para o Inspector que mastigava o primeiro rissol – Então aqui o artista é investigador criminal?
– Mais ou menos… é mais assim… uma espécie de informador.
– Ó inspector não esteja a baixar-me de categoria! – e o Pato acrescentou – tanto mais que acabo de receber informações muito importantes…
– Sobre o quê? – e o inspector atacou o segundo rissol .
– Corrupção no mundo do futebol.
– Ora! – comentou o Professor – Corrupção do futebol em Portugal? Já nem se chama corrupção – são técnicas de engenharia financeira,
– Mas não se trata de Portugal. Trata-se do futebol mundial.
Após esta declaração, o Inspector e o Professor prepararam-se para ouvir. O Pato afinou a garganta e começou o seu relato.
– Sabem o que é a FIFA?
Claro que sabiam. Nem responderam.
Estava-se bem na pateira, O inspector ia avançando na provisão de rissóis de camarão, o Professor bebia pequenos goles de “Conde de Amarante” e o Pato pediu à prima um néctar fresco. Ela perguntou:
– De pêssego, ananás, laranja…
– Maracujá – disse o Pato
– Não sabia que a tua prima se chamava Mara… – o inspector piscou o olho ao Professor.
– Nâo se chama Mara, chama-se Kwá, que significa Sol de Agosto. – e repetiu a pergunta:- – Sabem o que é a FIFA?
– Sim – responderam o Professor e o Inspector que mantinham os pés mergulhados na água.
– A Espanha vendeu a Taça das Confederações à FIFA!
O Professor e o Inspector riram-se. O Inspector disse:
– É a isso que chamam a teoria da conspiração, sabias?
O Pato não se deixou impressionar, deixou-os rir e acrescentou:
– No dia da final, houve uma reunião entre o presidente da Federação Espanhola de Futebol, o seleccionador, Vicente Del Bosque, o Sr. Jospeph Blatter, presidente da FIFA, e o Sr. Ronald Rhovald, da patrocinadora Adida…
– E o que tem isso de mal? – O Professor não estava a dar muita atenção.
– Depois o senhor Vicente Del Bosque fez uma prelecção no balneário. Explicou aos jogadores que tinham de deixar o Brasil ganhar..
– O que vai para aí! – o Inspector parecia interessado.
– O jogadores começaram por recusar. Mas depois…
– Depois, o Brasil jogou melhor e venceu uma equipa espanhola cheia de catalães… – O Professor parecia irritado – Essa história não tem pés nem cabeça.
– Mas a proposta mudou as coisas – 70 mil dólares para cada jogador, mais um bónus de 400.000,00 para dividir por todos os elementos, num total de 23 milhões de dólares, tudo paga através da Adidas. E mais uma benesse – os jogadores que fizerem contrato com a Adidas nos próximos quatro anos terão prémios como os da elite da empresa, – Xavi, Messi, Kaká…
– E tudo isso, porquê? – O Professor continuava sem conceder muita atenção.
– Elementar – o Pato estava empolgado – com o entusiasmo engasgou-se e tossiu – O senhor Blatter, presidente da FIFA tinha combinado a tramóia com Dilma Roussef . A vitória do Brasil acalmou as manifestações de protesto…
– Faz sentido – comentou o Inspector.
– Faz, não faz? – O Professor bebeu um gole de Conde de Amarante – As teorias da conspiração, fazem sempre sentido…
O Pato tossia e o Inspector comentou:
– Parece mais uma teoria da constipação.
E riram todos. Ouvindo a risada, os patinhos aproximaram-se curiosos.
O Inspector ditou uma sentença:
– A vida é um palimpsesto – por baixo do que parece ser a realidade…
O Professor interrompeu:
– Então já não diz «o Pralim Sexto da Brabilónia?»
– Nâo. Fiz um acordo com o autor. Mudou-me o vício dos pastéis de bacalhau para o dos rissóis de camarão e deixei de fazer de bronco.
– E fica no próximo folhetim? – o Professor perguntava por perguntar.
– Talvez. – o Inspector fez uma pausa – Estou à espera de uma proposta da Adidas…
Riram todos. Até mesmo os patinhos que não sabiam por que riam.