EM MEMÓRIA DE URBANO TAVARES RODRIGUES – 2 – por Álvaro José Ferreira

Como ficcionista, estreou-se em 1952 com a colectânea de contos e novelas “A Porta dos Limites”. Desde logo se manifesta uma tendência que se irá confirmar com “Vida Perigosa” (1955), “A Noite Roxa” e “Uma Pedrada no Charco”: a influência do existencialismo francês, em particular do modelo literário de Albert Camus. Simultaneamente, se manifesta a marca de um certo decadentismo finissecular português, herdado quer de Fialho de Almeida (em particular nas sucessivas evocações do Alentejo que percorrem toda a sua obra), quer de António Patrício e do já citado Manuel Teixeira Gomes, várias vezes revisitado na sua ensaística. Nessa primeira fase, é toda uma geração do pós-guerra na Europa que se exprime, com as suas angústias existenciais (elemento predominante também, na mesma altura, no seu livro de crónicas de viagem “Jornadas na Europa”, 1958). Igualmente se revela outra vertente marcante em toda a sua obra ficcional: o erotismo, com fundamentos míticos donjuanescos, sendo de maior relevo, paradoxalmente, as personagens femininas, quase sempre desencadeadoras de momentos privilegiados da acção, de tomadas de consciência muitas vezes agónicas, levando a inesperados actos de revolta e de sacrifício individual a favor do colectivo. Neste sentido, o primeiro romance (ou longa novela) que publicou, “Bastardos do Sol” (1959) constitui uma obra de viragem. Toda a intriga (passada no Alentejo e no íntimo de uma jovem filha de um latifundiário, Irisalva, que se revolta contra o sistema) desenvolve-se significativamente numa noite, ganhando assim o tempo, até então linear, uma dimensão propriamente mítica. Inicia-se a partir daí o que poderá considerar-se uma segunda fase, que vai até “Estrada de Morrer” (1971), e se caracteriza por uma ampliação da temática erótica a nível de um crescente dramatismo de consciencialização política, predominando as alegorias sociais no interior do próprio imaginário erótico e fundindo Eros e Tanatos. Todavia, a morte aqui é mais do que alucinação erótica individual: torna-se situação-limite de revolta, oposta a um quotidiano pequeno-burguês cinzento, vazio, dominado pelo medo, como se vê sobretudo nas colectâneas de novelas “As Máscaras Finais” (1963), “Terra Ocupada” (1964) e naquele que pode talvez ser considerado o melhor de livro de plena maturidade no género, o romance “Imitação da Felicidade (1966). Uma terceira fase será aquela que parte do romance “Dissolução” (1974) e manifesta mais explicitamente os conflitos ideológicos revolucionários e pós-revolucionários, quer em termos de exaltação – “Viamorolência” (1976), “As Pombas Vermelhas (1977), “Desta Água Beberei” (1979) –, quer em termos de angustiada interrogação e testemunho social finissecular – “Fuga Imóvel” (1982), “A Vaga de Calor” (1986), “Deriva” (1993) e “A Hora da Incerteza” (1995). Em entrevista a José Manuel Mendes para o jornal “Letras e Letras” (n.º 18, 5 de Junho de 1989), o escritor afirmou ter sempre oscilado entre “o realismo e o fantástico”: «a pressão da realidade envolvente, que era política e socialmente sórdida, empurrava-me com frequência, com o imperativo das grandes obrigações morais, para o testemunho, mas nunca esse testemunho-denúncia, tão marcado, parece-me, em “Uma Pedrada no Charco” ou em “Os Insubmissos”, se alheou da experimentação estética ou da infinita curiosidade pelos recessos e pelas contradições da alma humana. Por tudo isso nunca tive propriamente escola. Sinto-me devedor do simbolismo. Do realismo e naturalmente do neo-realismo, mas também do surrealismo, que desde o início terá deixado sedimentos no meu estilo.» A sua extensa obra foi várias vezes distinguida, tendo recebido, entre outros, o Prémio Ricardo Malheiros da Academia das Ciências de Lisboa, em 1958, para “Uma Pedra no Charco”; o Prémio da Imprensa Cultural, em 1966, para “Imitação da Felicidade”; o Prémio Aquilino Ribeiro da Academia de Ciências de Lisboa, em 1983, para “Fuga Imóvel”; o Prémio da Crítica do Centro Português da Associação Internacional de Críticos Literários, em 1987, para “Vaga de Calor”; o Prémio Fernando Namora, em 1992, para “Violeta e a Noite”; e o Grande Prémio de Conto Camilo Castelo-Branco da Associação Portuguesa de Escritores, em 2004, para “A Estação Dourada”. Foram-lhe ainda outorgados o Prémio de Consagração de Carreira da Sociedade Portuguesa de Autores, em 2000, e o Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores, em 2002. Urbano Tavares Rodrigues participou, como actor (fazendo o papel de si próprio), no filme “Visita, ou Memórias e Confissões”, realizado em 1982 por Manoel de Oliveira (ainda não exibido comercialmente). O cineasta, em entrevista a José Matos Cruz, afirmou que «”Visita” surge de uma circunstância, que provocou o acaso, do qual resultou o filme. Eu entendi que devia guardar aquela memória, e passei-a ao cinema…» – a circunstância em causa foi o encontro do realizador com o escritor na prisão do Aljube, em 1963. Mais recentemente, foram realizados dois documentários sobre a sua vida e obra: um por António Castanheira (“Memória das Palavras: Urbano Tavares Rodrigues”, 2008) e outro por Possidónio Cachapa (“O Adeus à Brisa”, 2009). Depois do 25 de Abril, aquando da Reforma Agrária, em coerência com o seu ideário e com o lema “a terra a quem a trabalha”, Urbano Tavares Rodrigues despojou-se das suas propriedades no Alentejo. Em entrevistas recentes, confessou: «Éramos três. O meu irmão Jorge não tinha as mesmas ideias – era um homem que se interessava fundamentalmente pelo dinheiro. Para podermos dar ao Jorge a parte dele vendemos aquilo a um primo nosso, grande agrário. Comprava se lhe garantíssemos que não lhe ocupavam as terras. Garantimos. A nossa parte, minha e do Miguel [jornalista Miguel Urbano Rodrigues], ficou para o sindicato dos trabalhadores agrícolas do distrito de Beja. Pedi licença para tirar da minha parte uma pequena quantia para ajudar a minha filha a comprar uma casa.» (entrevista concedida a Anabela Mota Ribeiro, in “Jornal de Negócios”, 7-Set-2012). «Foi um gesto romântico, separei-me de uma casa à qual tinha um amor profundo. Se não fosse isso era hoje um homem rico. Mas não quero saber. Fiz aquilo que achava certo e coerente com as minhas convicções.» (entrevista concedida a Luís Leal Miranda, in jornal “I”, 4-Fev-2010). [Fontes principais: “Infopédia” e “Dicionário da Literatura Portuguesa”, organização e direcção de Álvaro Manuel Machado, Editorial Presença, 1996]

Bibliografia:

Ficção: – A Porta dos Limites (contos e novelas), Lisboa: Editorial Notícias, 1952 – Vida Perigosa (novelas), Amadora: Bertrand, 1955 – A Noite Roxa (novelas), Lisboa: Bertrand, 1956 – Uma Pedrada no Charco (novelas), Lisboa: Bertrand, 1957 [Prémio Ricardo Malheiros da Academia das Ciências de Lisboa] – As Aves da Madrugada (novelas), Lisboa: Bertrand, 1959 – Bastardos do Sol (romance), Lisboa: Arcádia, 1959 – Nus e Suplicantes (novelas), Lisboa: Bertrand, 1960 – Os Insubmissos (romance), Lisboa: Bertrand, 1961 – Uma Noite e Nunca (conto), Lisboa: Tempo, 1962 – Exílio Perturbado (romance), Lisboa: Bertrand, 1962 – As Máscaras Finais (novelas), Lisboa: Bertrand, 1963 – A Samarra (novela), Lisboa: Estúdios Cor, 1964 – Terra Ocupada (novelas), Lisboa: Bertrand, 1964 – A Masmorra (contos), São Paulo (Brasil): Clube do Livro, 1964 – Dias Lamacentos (contos), Lisboa: Portugália Editora, 1965 – Imitação da Felicidade (romance), Lisboa: Bertrand, 1966 [Prémio da Imprensa Cultural] – Despedidas de Verão (romance), Lisboa: Bertrand, 1967 – Casa de Correcção (novelas), Lisboa: Bertrand, 1968 – Tempo de Cinzas (romance), Lisboa: Editora Ulisseia, 1968 – Horas Perdidas (romance), Lisboa: Bertrand, 1969 – Contos da Solidão (contos), Lisboa: Bertrand, 1970 – Estrada de Morrer (contos e novelas), Amadora: Bertrand, 1971 – A Impossível Evasão (novelas), Porto: Editorial Inova, 1972 – Dissolução (romance), Amadora: Bertrand, 1974 – Viamorolência (novelas), Amadora: Bertrand, 1976 – As Pombas São Vermelhas (contos e novelas), Amadora: Bertrand, 1977 – Estórias Alentejanas (contos), Lisboa: Editorial Caminho, 1977 – Desta Água Beberei (romance), Amadora: Bertrand, 1979 – Abecê da Negação, Lisboa: Editorial Caminho, 1980 – Fuga Imóvel (ficções), Lisboa: Moraes Editores, 1982 [Prémio Aquilino Ribeiro da Academia de Ciências de Lisboa] – Oceano Oblíquo (contos e novelas), Mem-Martins: Publicações Europa-América, 1985 – A Vaga de Calor (romance), Mem-Martins: Publicações Europa-América, 1986 [Prémio da Crítica do Centro Português da Associação Internacional de Críticos Literários] – Filipa Nesse Dia (novelas), Mem-Martins: Publicações Europa-América, 1989 – Violeta e a Noite (romance), Mem-Martins: Publicações Europa-América, 1991 [Prémio Fernando Namora] – Deriva (romance), Mem-Martins: Publicações Europa-América, 1993 [Prémio Literatura e Ecologia do Lyons Club de Aveiro] – A Hora da Incerteza (romance), Mem-Martins: Publicações Europa-América, 1995 – O Ouro e o Sonho (romance), Mem-Martins: Publicações Europa-América, 1997 – O Adeus à Brisa (contos), Mem-Martins: Publicações Europa-América, 1998 – Os Campos da Promessa (novela), fotografias de Pedro Letria, Évora: Ataegina, 1998 – Margem da Ausência (novela), fotografias de Carlos Melo Santos e Fernando Curado Matos, Porto: Edições Asa, 1998 – O Dia Último e o Primeiro (novela), Lisboa: Editorial Caminho, 1999 – O Supremo Interdito (romance), Mem-Martins: Publicações Europa-América, 2000 – Nunca Diremos Quem Sois (romance), Mem-Martins: Publicações Europa-América, 2002 – A Estação Dourada (contos), Mem-Martins: Publicações Europa-América, 2003 [Grande Prémio de Conto Camilo Castelo-Branco da Associação Portuguesa de Escritores] – God Bless América! (contos), fotografias de Rui Ochôa, Mem-Martins: Publicações Europa-América, 2003 – O Eterno Efémero (romance), Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2005 – Carnaval Negro (antologia de novelas), Porto: Edições Asa, 2005 – O Cavalo da Noite (narrativa para a infância), ilustrações de Raffaello Bergonse, Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2006 – Ao Contrário das Ondas (romance), Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2006 – Os Cadernos Secretos do Prior do Crato (romance), Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2007 – A Última Colina (contos), Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2008 – Assim se Esvai a Vida (novelas), Alfragide: Publicações Dom Quixote, 2010 – Os Terraços de Junho (contos e sonhos), Alfragide: Publicações Dom Quixote, 2011 – Escutando o Rumor da Vida seguido de Solidões em Brasa (novelas), Alfragide: Publicações Dom Quixote, 2012 – A Imensa Boca dessa Angústia e Outras Histórias (contos), Alfragide: Publicações Dom Quixote, 2013

Poesia: – Zona Xis (poemas em prosa), fotografias de Joel Moniz, Vila Nova de Famalicão: Quasi Edições, 2003 – Rostos da Índia e Alguns Sonhos (poemas em prosa), Porto: Edições Asa, 2005 – Horas de Vidro, prefácio de Manuel Gusmão, Alfragide: Publicações Dom Quixote, 2010

Teatro: – As Torres Milenárias: peça em dois actos, Amadora: Bertrand, 1971

Literatura de viagens e crónicas: – Santiago de Compostela, Lisboa: Empresa Nacional de Publicidade, 1949 – Jornadas no Oriente: Lisboa-Goa e Volta, Lisboa: Bertrand, 1956 – Jornadas na Europa, Lisboa: Publicações Europa-América, 1958 – De Florença a Nova Iorque, Lisboa: Portugália Editora, 1963 – Roteiro de Emergência, Lisboa: Portugália Editora, 1966 – A Palma da Mão, Porto: Editorial Inova, 1970 – Deserto com Vozes, Porto: Editorial Inova, 1971 – Esta Estranha Lisboa, Lisboa: Prelo, 1972 – Redescoberta da França, Lisboa: Seara Nova, 1973 – Viagem à União Soviética e Outras Páginas, Lisboa: Seara Nova, 1973 – As Grades e o Rio, Porto: Editorial Inova, 1974 – Perdas e Danos, Lisboa: Seara Nova, 1974 – Diário da Ausência e Textos de Presença Activa, Amadora: Bertrand, 1975 – Vinte e um Dias de Luta, Lisboa: Seara Nova, 1975 – Palavras de Combate, Lisboa: Seara Nova, 1975 – Registos de Outono Quente: algumas notas de viagem, Lisboa: Seara Nova, 1976 – A Luz da Cal: Itinerário Alentejano, fotografias de António Homem Cardoso, Lisboa: Éter, 1996 – Agosto no Cairo: 1956, Lisboa: Instituto Camões, 1999

Ensaio: – Manuel Teixeira Gomes: Introdução ao Estudo da sua Obra, Lisboa: Portugália Editora, 1950 – Présentation de Castro Alves, Coimbra: Coimbra Editora, 1954 – O Tema da Morte na Moderna Poesia Portuguesa, Lisboa: separata da revista “Graal”, No. 4, 1957 – O Mito de Don Juan e o Donjuanismo em Portugal, Lisboa: Edições Ática, 1960 – Teixeira Gomes e a Reacção Antinaturalista, Lisboa: Casa do Algarve, 1960 – Noites de Teatro, 2 vols., Lisboa: Edições Ática, 1961/1962 – O Romance Francês Contemporâneo, Lisboa: Sociedade Portuguesa de Escritores, 1964 – Realismo, Arte de Vanguarda e Nova Cultura, Lisboa: Editora Ulisseia, 1966 – O Tema da Morte: Ensaios, Lisboa: Cronos, 1966 – A Saudade na Poesia Portuguesa, Lisboa: Portugália Editora, 1968 – Escritos Temporais, Lisboa: Livros Alicerce, 1969 – Ensaios de Escreviver, Porto: Editorial Inova, 1970 – Uma Etapa da Revolução, Lisboa: Seara Nova, 1975 – Ensaios de Após-Abril, Lisboa: Moraes Editores, 1977 – Reflexões sobre Três Sonetos de Camilo Pessanha, Lisboa: Academia das Ciências, 1978. – O Gosto de Ler, Porto: Nova Crítica, 1980 – O Rosto e a Máscara na Obra de Fernando Namora, Lisboa: Academia das Ciências, 1980 – Aprendizagem da Vida, da Escrita e da Morte na Obra de Cesare Pavese, Lisboa: separata da revista “Estudos Italianos em Portugal”, 1980 – Jogos de Água: a Líbido, a Morte e a Mãe em “O Homem das Fontes” de António Patrício, Lisboa: Academia das Ciências, 1980 – Um Novo Olhar sobre o Neo-Realismo, Lisboa: Moraes Editores, 1981 – Manuel Teixeira Gomes: O Discurso do Desejo, Lisboa: Edições 70, 1984 – A Horas e Desoras, Lisboa: Edições Colibri, 1993 [Prémio de Ensaio Jacinto do Prado Coelho] – Tradição e Ruptura, Lisboa: Editorial Presença, 1994 – O Homem sem Imagem: a persistência das marcas surrealistas nos romances de Aragon, Lisboa: Edições Colibri, 1995 – Os Tempos e os Lugares na Obra Lírica, Épica e Narrativa de Manuel Alegre, Lisboa: Edições Universitárias Lusófonas, 1996 – O Texto sobre o Texto, Lisboa: IN-CM, 2001 – A Flor da Utopia, ilustrações de Rogério Ribeiro, Porto: Edições Asa, 2003 – A Obra Literária de Álvaro Cunhal / Manuel Tiago Vista por Urbano Tavares Rodrigues, Lisboa: Editorial Caminho, 2005 – A Natureza do Acto Criador, Lisboa: IN-CM, 2011

Organização de antologias: – Romanceiro Português, escolha, notas e prefácio de Urbano Tavares Rodrigues, ilustrações de Maria Judite, Lisboa: Campanha Nacional de Educação de Adultos, 1956 – Alto e Baixo Alentejo, introdução, selecção e notas de Urbano Tavares Rodrigues, Lisboa: Bertrand, 1958 – O Algarve na Obra de Teixeira Gomes, prefácio e selecção de Urbano Tavares Rodrigues, Lisboa: Portugália Editora, 1962 – O Mundo do Toureio na Literatura de Língua Portuguesa, selecção e prefácio de Urbano Tavares Rodrigues, Lisboa: Portugália Editora, 1966 – A Estremadura, introdução, selecção e notas de Urbano Tavares Rodrigues, Lisboa: Bertrand, 1968 – Poesia da Noite, selecção e prefácio de Urbano Tavares Rodrigues, Lisboa: Neo-Farmacêutica, 1970 – O Cristal da Palavra: Cartas Inéditas de Manuel Teixeira Gomes a Afonso Lopes Vieira, Lisboa-Portimão: Edições Colibri, 1999 – Retratos para Aquilino (texto e pintura, em colaboração com outros autores), Paredes de Coura: Câmara Municipal de Paredes de Coura – Cooperativa Árvore, 2000 – O Algarve em Poemas, Porto: Edições Asa, 2003 – Os Poemas da Minha Vida, Lisboa: Público, 2005 – É Tempo de Começar a Falar de Álvaro Cunhal, organização e prefácio de Urbano Tavares Rodrigues, Porto: Edições Asa, 2006

E como se comportou desta vez a rádio estatal? A Antena 2 repôs a entrevista concedida pelo escritor a João Almeida, em 2008. A Antena 1 transmitiu uma entrevista realizada por Mário Galego em finais de 2012 e recuperou do arquivo a edição do programa “Vidas Que Contam” consagrada a Urbano Tavares Rodrigues, que havia sido emitida em Março passado. As entrevistas e as resenhas biográficas são, sem dúvida, importantes, mas algo mais a rádio pública podia e devia fazer no sentido de dar a conhecer a obra, em si mesma, do autor. Refiro-me concretamente à transmissão, na íntegra, da adaptação radiofónica do romance “Bastardos do Sol” e à inclusão na ‘playlist’ da Antena 1 (e mesmo na da Antena 3 – porque não?) das canções que se gravaram baseadas em poemas seus (que aproveito para aqui apresentar). Antes, deixo os atalhos para os referidos programas e também para outros com entrevistas, a começar pelo “Agora… Acontece!”, de 14-Dez-1998. Destaco entre todos “A Força das Coisas” que contém duas entrevistas: uma realizada pelo autor do programa, Luís Caetano, em meados de 2012, e outra por Francisco Igrejas Caeiro, em 1957.

“Agora… Acontece!” N.º 11, de 14-Dez-1998

Urbano Tavares Rodrigues entrevistado por Carlos Pinto Coelho, a propósito do lançamento do livro “Margem da Ausência” (Edições Asa, 1998) [a partir de 20′:45″]

“Quinta Essência”, de 10-Out-2008 [reposição em 10-Ago-2013]http://www.rtp.pt/play/p319/e125826/quinta-essência

Urbano Tavares Rodrigues entrevistado por João Almeida em 2008 Produção e coordenação de Manuela Gomes

“Última Hora”, de 18-Jun-2012 http://www.tsf.pt/PaginaInicial/Interior.aspx?content_id=2616857

Urbano Tavares Rodrigues entrevistado por Ricardo Oliveira Duarte, a propósito do lançamento do “Escutando o Rumor da Vida seguido de Solidões em Brasa” (Junho de 2012)

“A Força das Coisas”, de 28-Jul-2012 http://www.rtp.pt/play/p321/e89014/a-forca-das-coisas

Urbano Tavares Rodrigues entrevistado por Luís Caetano em Julho de 2012 Urbano Tavares Rodrigues entrevistado por Francisco Igrejas Caeiro para o programa “Perfil dum Artista” (1957)

“Entrevista Antena 1”, de 09-Ago-2013 http://www.rtp.pt/play/p314/e125745/entrevista-antena-1

Urbano Tavares Rodrigues entrevistado por Mário Galego em finais de 2012

“Vidas Que Contam”, de 19-Mar-2013 http://www.rtp.pt/play/p328/e111194/vidas-que-contam

Documentário radiofónico sobre Urbano Tavares Rodrigues; autoria e realização de Ana Aranha

Canção do Soldado (No Cerco do Porto)

Poema: Urbano Tavares Rodrigues Música: Adriano Correia de Oliveira Intérprete: Adriano Correia de Oliveira (in EP “Menina dos Olhos Tristes”, Orfeu, 1964; “Obra Completa: CD “A Noite dos Poetas”, Movieplay, 1994, 2007)

[instrumental]

Sete balas só na mão, Já começa a amanhecer; Sete flores de limão P’ra lutar até vencer. Sete flores de limão P’ra lutar até morrer.

[instrumental]

Já estremece a tirania, Já o sol amanheceu; Mil olhos tem o dragão, Há chamas d’oiro no céu. Mil olhos tem o dragão, Há chamas d’oiro no céu.

[instrumental]

Abriu o peito o luar, Companheiros, acercai-vos! Arde em nós a luz do dia, Companheiros, revezai-vos! Arde em nós a luz do dia, Companheiros, revezai-vos!

[instrumental]

Já o rouxinol cantou, Tomai o nosso estandarte! No seu sangue misturado Já não há desigualdade. No seu sangue misturado Já não há desigualdade.

[instrumental]

Sete balas só na mão, Já começa a amanhecer; Sete flores de limão P’ra lutar até vencer.

* Rui Pato – viola

Margem Sul (Canção Patuleia)

Poema: Urbano Tavares Rodrigues Música: Adriano Correia de Oliveira Intérprete: Adriano Correia de Oliveira* (in LP “Margem Sul”, Orfeu, 1967; “Obra Completa: CD “A Noite dos Poetas”, Movieplay, 1994, 2007)

[instrumental]

Ó Alentejo dos pobres, Reino da desolação, Não sirvas quem te despreza! É tua a tua nação. Não sirvas quem te despreza! É tua a tua nação.

Não vás a terras alheias Lançar sementes de morte! É na terra do teu pão Que se joga a tua sorte. É na terra do teu pão Que se joga a tua sorte.

Terra sangrenta de Serpa, Terra morena de Moura, Vilas de angústia em botão, Dor cerrada em Baleizão.

[instrumental]

Ó margem esquerda do Verão, Mais quente de Portugal, Margem esquerda deste amor Feito de fome e de sal. Margem esquerda deste amor Feito de fome e de sal.

A foice dos teus ceifeiros Trago no peito gravada, Ó minha terra morena, Como bandeira sonhada. Ó minha terra morena, Como bandeira sonhada.

Terra sangrenta de Serpa, Terra morena de Moura, Vilas de angústia em botão, Dor cerrada em Baleizão.

[instrumental]

* Rui Pato – viola

Margem Esquerda

Poema: Urbano Tavares Rodrigues Música: Luís Cília Intérprete: Luís Cília* (in LP “La Poésie Portugaise de nos Jours et de Toujours N.º 2”, Moshé-Naim, 1969)

[instrumental]

Ó Alentejo dos pobres, Reino da desolação, Não sirvas quem te despreza! É tua a tua nação!

Não vás a terras alheias Lançar sementes de morte! É na terra do teu pão Que se joga a tua sorte!

Terra sangrenta de Serpa, Terra morena de Moura, Vilas de angústia em botão, Dor cerrada em Baleizão.

[instrumental]

Não vás a terras alheias Lançar sementes de morte! É na terra do teu pão Que se joga a tua sorte!

A foice dos teus ceifeiros Trago no peito gravada, Ó minha terra vermelha, Como bandeira sonhada. [bis]

[instrumental]

* Luís Cília – canto e guitarra François Rabbath – contrabaixo Engenheiro de som – Jean-Pierre Dupuy

Canção do Soldado no Cerco do Porto

Poema: Urbano Tavares Rodrigues Música: Luís Cília Intérprete: Luís Cília* (in LP “La Poésie Portugaise de nos Jours et de Toujours N.º 2”, Moshé-Naim, 1973 – edição espanhola)

[instrumental]

Sete balas só na mão, Já começa a amanhecer; Sete flores de limão P’ra lutar até morrer.

Já estremece a tirania, Já o sol amanheceu; Mil olhos tem o dragão, Há chamas d’oiro no céu.

Cresçam monstros e canhões Contra este mar de vontades! A força bruta não pode Vencer o sol das verdades!

Abriu-me o peito o luar, Companheiros, acercai-vos! Arde em nós a luz do dia, Companheiros, revezai-vos!

Já o rouxinol cantou, Tomai o nosso estandarte! No seu sangue misturado Já não há desigualdade.

Cresçam monstros e canhões Contra este mar de vontades! A força bruta não pode Vencer o sol das verdades! [bis]

[instrumental]

* Luís Cília – canto e guitarra François Rabbath – contrabaixo Engenheiro de som – Jean-Pierre Dupuy

Paixão

Poema: Urbano Tavares Rodrigues Música: António Victorino d’Almeida Intérprete: Maria João Pires & Carlos do Carmo* (in CD “Maria João Pires & Carlos do Carmo”, Universal, 2012)

Ai coração de Lisboa Sangrando por tantas feridas! Dizem que excesso de amor, Tantas rosas comovidas.

Arde a paixão no teu rosto E as ondas altas do mar Rolam no fervor do ar; Ai tempestades de Agosto! [bis]

Com um beijo me prendeste À tua blusa dourada; Com outro beijo me deste Os mirtos da madrugada.

Arde a paixão no teu rosto E as ondas altas do mar Rolam no fervor do ar; Ai tempestades de Agosto! [bis]

Maria, filha da luz, Ancoraste em meus abraços; E a espuma do sol reluz No segredo dos teus braços.

[instrumental]

Arde a paixão no teu rosto E as ondas altas do mar Rolam no fervor do ar; | bis Ai tempestades de Agosto! |

* Maria João Pires – piano Carlos do Carmo – voz

Capa da primeira edição do romance “Bastardos do Sol” (Arcádia, 1959)

Capa da edição em DVD do documentário “Memória das Palavras: Urbano Tavares Rodrigues”, realizado por António Castanheira em 2008 (Edições Cão Menor, 2009) Publicada por Álvaro José Ferreira à(s) 11:40 ________________________________________ Não foram detetados vírus nesta mensagem. Verificado por AVG – http://www.avg.com Versão: 2013.0.3392 / Base de dados de Vírus: 3211/6581 – Data de Lançamento: 08/15/13

Leave a Reply