Pentacórdio para Sexta-feira 11 de Outubro

por Rui Oliveira

 

 

 jangada de pedra

 

   Comecemos desta vez pelo teatro para assinalar que a companhia de Teatro O Bando vem apresentar na Sala Principal do São Luiz Teatro Municipal, às 21h, a versão de palco da sua criação “Jangada de Pedra” de José Saramago, cuja versão de rua fora estreada no Festival Imaginarius este ano em Maio em Santa Maria da Feira.

jangada de pedra 0   Esta encenação de João Brites e Rui Francisco estará em cena de 11 a 26 de Outubro (de Quarta a Sábado às 21h e ao Domingo às 17h30).

   A dramaturgia (e dramatografia) de João Brites, com música e direcção musical de Jorge Salgueiro e figurinos de Clara Bento, será interpretada por Anna Kurikka, Bruno Huca, Guilherme Noronha, Miguel Branca, Nuno Nunes e Sara de Castro (actores) e Fábio Matias, Gabriel Gonçalves, Jaime Pascoal, João Ribeiro, Luís Gonçalves e Nuno Henriques  (músicos). 

   Escreve no seu programa o Teatro O Bando : «Todos nós jangadas partindo ainda sem saber para onde, largando amarras dos vícios, das dores, dos sistemas antigos e caducos. jangada de pedra 2Todos nós procurando a diferença, a identidade, a soberania. Todos nós partindo para o mar e vendo ao longe esse rochedo fragmentado, essa Europa dividida entre tantos centros e outras tantas periferias. Todos nós caminhando, ouvindo cânticos ancestrais de uma ibéria feita de mil povos cruzados. Todos nós de costas voltadas, voltados de costas uns para os outros, perguntando às populações, aos amigos, aos viajantes: para onde vamos ?».

   Diz quem viu que “O Bando retoma Saramago e a poderosa metáfora de uma península que se separa do continente e empreende uma viagem em busca de outro sentido, dando-nos o prazer de um teatro visionário, espécie de literatura em viagem pelas possibilidades plásticas e cenográficas propostas pelas suas sempre inesperadas máquinas de cena”.

 

 

 

    Voltamos a mencionar a “14ª Festa do Cinema Francês” de que ontem assinalámos o início, para destacar um 2º dia de Antestreias com a presença das realizadoras (já irá na terceira !…), o que parece ser uma preocupação justa da organização para o melhor conhecimento e debate da cinematografia francesa actual.

 

berthe-morisot-1-Site

   Assim na Sala Manoel de Oliveira do Cinema São Jorge, às 19h desta Sexta-feira, 11 de Outubro, vai ser exibido o filme de Caroline Champetier (que estará presente) de nome “Berthe Morisot” (França, 2012).

   Trata-se dum biopic, um filme sobre uma personagem real, aquela que se tornou a primeira pintora profissional, logo a primeira impressionista.

berthe morisot   Passa-se em 1865. Aos 25 anos, Berthe Morisot sonha em viver da pintura, em nunca se casar e ficar para sempre ao lado da sua irmã Edma. No entanto, os seus pais não veem a sua vida do mesmo modo e concebem-lhe um destino que esteja de acordo com as normas sociais da época. Berthe revolta-se e o seu encontro com Manet vai alterar a sua forma de pensar, a sua relação com a sua irmã, com a pintura e com o mundo …

   Interpretam-no Marine Delterme, Alice Butaud e Malik Zidi nos papéis principais, sendo o argumento de Philippe Lasry e Sylvie Meyer e a fotografia da própria Caroline Champetier.

   Ouça-se aqui como a realizadora explica o filme.

 

   Prevê-se um filme interessante dado o currículo impressionante de Caroline Champetier a qual, nos últimos três anos, depois de mais de 65 longas-metragens como directora de fotografia, filma ”Des caroline champetier 1Hommes et des Dieux” realizada por Xavier Beauvois, com o qual recebe o Grande Prémio no Festival de Cannes em 2010, além de três outros prémios, nomeadamente Césars em 2011.

   Em 2012 filma “Sport de filles” e “Holy Motors” de Léos Carax, realiza “Berthe Morisot” e entre 2012 e 2013 colabora novamente com Claude Lanzmann no filme “Le Dernier des Injustes”, que veremos nesta 14ª Festa do Cinema Francês.

   Para trás fica o seu trabalho fotográfico com realizadores como Jacques Rivette, Claude Lanzmann, François Truffaut, Jean-Marie Straub et Danièle Huillet, numa primeira fase, depois com Chantal Akerman (“Toute Une Nuit”, 1981) e Jean-Luc Godard  (sete filmes, entre os quais “King Lear” e “Histoire du Cinéma”) numa segunda e, por último, colaborando com alguns dos melhores realizadores franceses (Jacques Doillon, Philippe Garrel, Benoît Jacquot, André Techiné).

 

 

Au bout-du-conte 1 

   Segue-se nesta Sexta-feira, 11 de Outubro na mesma Sala do São Jorge, às 21h30, o filme “Au Bout du Conte” (“E Viveram Felizes para Sempre…?”) (França, 2012) da realizadora Agnès Jaoui.

   Com argumento de Agnès Jaoui e Jean-Pierre Bacri e fotografia de LuboAu-bout-du-conte-d-Agnes-Jaoui_imageWidth560mir Bakchev, interpretam-no Agnès Jaoui, Jean-Pierre Bacri e Agathe Bonitzer nos principais papéis.

   Sinopse do filme (no programa da FCF) :

   «Era uma vez uma rapariga que acreditava no grande amor, no destino e nos sinais; uma mulher que sonhava ser actriz; um jovem que acreditava no seu enorme talento enquanto compositor mas não acreditava nada nele próprio.

 Era uma vez uma menina que acreditava em Deus. E um homem que não acreditava em nada até ao dia em que uma vidente o relembrou da data da sua morte e aí, contra tudo o que sempre defendeu, começou a acreditar».

   Há diversos filmes-anúncio, entre os quais escolhemos o relativo à vidente :

 

 

   Quanto à realizadora, Agnès Jaoui forma uma dupla com Jean-Pierre Bacri que é Agnes-Jaoui_rubrique_article_uneconhecida pelo enorme sucesso que teve em 2000 ”O Gosto dos Outros“, a que se seguiu ”Olhem para Mim“, de 2004. Em ”Parlez-moi de la pluie“, de 2008, os argumentistas voltam a tomar papéis principais e retratar com humor situações do quotidiano, ajudados pela excelente representação de Jamel Debbouze e Mimouna Hadji.

   Contudo Agnès Jaoui tinha já uma larga carreira como dramaturga, argumentista e actriz, tendo trabalhado com Patrice Chéreau, Cédric Klapisch e Alain Resnais, com quem obteve um Cesar para “Melhor Actriz Secundária” em ”On connaît la chanson“. O argumento deste filme, assim como o de ”Smoking, No Smoking“, era de Jaoui e Bacri e ambos os guiões obtiveram o Cesar para “Melhor Argumento”.

 

 

 

   Ainda no cinema, ali perto na Cinemateca Portuguesa, na sua Sala Luís de Pina, às 19h30, com entrada livre (mediante levantamento prévio de bilhete), lembramos que, como já anunciáramos ao divulgar o ciclo “Tesouros de Bolonha”, é possível  escutar Gian Luca Farinelli, Gian Luca Farinellidirector da “Cineteca di Bologna”, que virá falar sobre “A partir do exemplo de Bolonha : Questões actuais das Cinematecas e do restauro cinematográfico”.

   Será uma oportunidade de ouvir o responsável por uma das cinematecas mais dinâmicas da actualidade, que é também aquela onde mais se estão a cruzar os desafios gerados pelas mutações em curso nesta área. Tendo evoluído nas últimas cineteca Bolognatrês décadas em articulação com um eminente pólo de restauro (o laboratório “L’Immagine Ritrovata”) e com o mais importante festival de cinema de património do mesmo período (“Il Cinema Ritrovato”), a instituição de Bolonha é, mais do que “uma cinemateca”, um centro nevrálgico dos arquivos e dos debates da museologia de cinema contemporânea. Questões hoje decisivas como a opção generalizada pelo restauro digital ou os dilemas relativos à apresentação dos clássicos do século XX (entre o formato de origem e o padrão industrial escolhido pela indústria dominante), o papel dos arquivos enquanto plataforma alternativa de distribuição e, inerentemente, a sua participação no “mercado do património”, tudo isso será abordado nesta conferência e poderá depois ser debatido com Gian Luca Farinelli.

 

 

 

ATDK TCamões

   Quanto à dansa, no Teatro Camões são repostas a partir desta Sexta-feira, 11 de Outubro, às 21h, pela Companhia Nacional de Bailado as três obras de Anne Teresa De Keersmaeker (ATDK), que permitiram aos seus artistas em 2012 o inequívoco reconhecimento do público pela interpretação do exigente repertório que representaATDK a conversão em linguagem coreográfica das composições musicais de Debussy, Beethoven e Schönberg.

   Repetir-se-ão a 11, 12, 18 e 19 às 21h e a 13 e 20 (Domingo) às 16h.

   Como o noticiámos no Pentacórdio de 26 de Outubro de 2012, o programa à data em que ATDK foi “Artista na Cidade de Lisboa” compreendia, como agora, as seguintes três peças :

   1. Prelúdio à Sesta de um Fauno com coreografia de Anne Teresa De Keersmaeker e interpretação musical da Orchestrutopica (no lugar da Orquestra Metropolitana de Lisboa).

ATDK Grosse Fugue   É um fragmento da coreografia original de Vaslav Nijinski, com música de Claude Debussy, Prélude à l’après-midi d’un faune (na versão orquestral de Arnold Schönberg) numa co-criação de Mark Lorimer, Cynthia Loemij, Taka Shamoto, Kosi Hidama, Zsuzsa Rozsavölgyi, Tale Dolven, Kaya Kolodziejczyk e Elizaveta Penkóva.

   2. Grosse Fuge com coreografia de Anne Teresa De Keersmaeker e interpretação musical pela Orchestrutopica da Grosse Fuge, op. 133 de Ludwig van Beethoven.

   3. Noite Transfigurada com coreografia de Anne Teresa De Keersmaeker e interpretação musical pela Orchestrutopica da peça Verklärte Nacht, op. 4 de Arnold Schönberg.

   O vídeo abaixo (diferente do divulgado em Outubro, a ver aqui ) mostra trechos dos ensaios coreográficos das três peças do espectáculo :

 

 

 

lilian raquel   Na música, quem se desloque nesta Sexta-feira, 11 de Outubro, ao conhecido Ondajazz (Rua Arco de Jesus nº 7, a Alfama) às 22h30, poderá ouvir o duo brasileiro Lilian Raquel (voz), antiga vocalista de Naná Vasconcelos, e Cláudio César Ribeiro (guitarra), actual guitarrista de Ivan Lins, abordar os temas do seu último álbum “Com Todas as Cores”, onde se inclui, aliás, uma participação do próprio Ivan Lins no tema Vitoriosa, que abaixo reproduzimos.

   Lilian Raquel faz-se acompanhar pelo restante Cláudio César Ribeiro Quinteto que, para lá do guitarrista, é composto por Norton Daiello (contrabaixo), André Sarbib (piano) e João Castro Cunha (bateria).

 

 

 

 

   Ainda na música (para iniciados no rock) vem à Galeria Zé dos Bois (ZDB), às 22h desta Sexta-feira, 11 de Outubro a banda os “Dead Meadow”, não pela primeira vez em Portugal.

dead meadow warble womb   Diz a ZDB : «… fundada na cidade de Washington, D.C., em 1999, por Jason Simon (voz e guitarra), Steve Kille (baixo) e Mark Laughlin (bateria), nunca ficou com a nitidez necessária nas fotos “oficiais” do stoner-rock … Em contrapartida, com algumas pausas pelo meio e alterações na formação inicial, têm construído uma bela discografia que traz ao rock um precioso langor. É música feita de riffs, e de batidas duras e precisas, mas também de melodias e glissandos graciosos. E depois há a voz espectral de Jason Simon, o excelso domínio do feedback e da distorção … Os “Dead Meadow” cultivam a força dramática das canções e os instrumentos servem esse intento. Dito de outro modo, esta é uma banda que, com os seus instintos e sentimentos, desaparece e cintila sob os seus sons. E Warble Womb, o recentíssimo álbum de originais, é uma prova cabal dessa sublimação.

   Tal pode apreciar-se ouvindo “Mr.Chesty” do referido album “Warble Womb” aqui ou vendo o vídeo abaixo da banda tocando “One Thousand Dreams” do mesmo CD :

 

 

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