A ESTUPIDEZ É UM CÃO FIEL – 24 – por Sérgio Madeira

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Capítulo vinte e quatro

Cidade do Maputo, 1975

Fora um dia muito bem passado, com abundância de sol e, sobretudo, com a ausência de fantasmas. De manhã tinham atravessado no ferryboat a Baía do Espírito Santo, e  podido contemplar a linda cidade que ainda não fora crismada, mas que muitos patriotas moçambicanos se recusavam já a designar por um nome que nada lhes dizia. Nem os portugueses sabiam quem foi Lourenço Marques, um insignificante mercador do século XVI. Ali tinham saboreado com apetite o almoço levado numa espectacular mala térmica que Francisco comprara na África do Sul – umas sanduíches de camarão, alface e maionese levadas por Alfredo tinham feito sucesso – «No restaurante do Museu Britânico foi onde as comi pela primeira vez…», explicou, acrescentando – «Mas as minhas estão muito melhores».  Tinham ido encerrar o agradável passeio nas areias da praia da Polana. Ali, activando o dispositivo automático, Manuel fizera a fotografia onde os quatro «mosqueteiros» pousavam com sorrisos alegres.

Entardecia quando, já na sala do modesto apartamento de Francisco e Maria, num andar da ainda Bartolomeu Dias,  Manuel começou a dedilhar a viola, as canções sucederam-se. Só Alfredo não cantou – «Não quero estragar um serão que está a correr tão bem». Predominaram as composições de José Afonso. Francisco cantava-as de forma muito razoável. Maria, timidamente a princípio, recordou uma toada aprendida na escola. Manuel cantou Hasta siempre, comandante, de Carlos Puebla. E estavam nos últimos versos, quando soou a campainha da porta.

– Afinal os três mosqueteiros são cinco! – disse Alfredo, quando o recém-chegado a quem Francisco fora abrir a porta entrou.

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