Novas Viagens na Minha Terra – Série II – Capítulo 131 – por Manuela Degerine

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De novo em Ponte de Lima

O caminho ondeia nos últimos quilómetros através de aldeias, campos e vinhas. Em Ponte de Lima é dia de mercado e, quando me aproximo das primeiras tendas, começa a chover alabardas – como se diz em francês. O que não é muito confortável. Chove, chove, galinha a nove, cega, inspirando mais água do que ar, com o cansaço às costas e trinta e três quilómetros nas patas, consigo correr para debaixo de um toldo; onde os feirantes me oferecem um banco. As comportas celestes despejam-nos para cima não menos de uma albufeira até que, quinze minutos mais tarde, a chuva enfim se acalma – mesmo o Dilúvio cessou. São quatro horas. Aproveito para fazer compras (massa, queijo, iogurte, fruta e pão), depois sigo para o albergue e sento-me num banco à espera da abertura.

Chega um alemão que fala francês. Magro, um metro e setenta, cinquenta e tal anos, um blusão vermelho, uma camisa aos quadrados azuis e vermelhos; é psiquiatra. Chama-se Pieter.

Tendo cumprimentado a alberguista, subo ao dormitório, largo a bagagem, avanço sem mais demoras para o duche – onde a água escalda! A seguir desço à lavandaria, lavo a camisola que amanhã vestirei molhada, o sutiã, as cuecas, as peúgas que de imediato visto e calço… Subo enfim à cozinha. Onde faço uma pratada de massa. O reconforto que este espaço oferece a quem palmilhou trinta e três quilómetros com uma mochila… Obrigada a todos quantos – quotidianamente – o tornam possível.

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Ainda me esforço por caminhar em Ponte de Lima: preciso de matar saudades. Dou passeios compridos quando volto no verão, hoje atravesso a ponte – de uma beleza simples e extrema que vem da pedra, da forma, das proporções – mas não consigo chegar longe, regresso ao albergue, escrevo um pouco… E deito-me. Conversei com uma inglesa que me deixou curiosa, há no albergue outros andarilhos que gostaria de conhecer; mas… amanhã! Quem quer ir longe poupa a cavalgadura, não é?

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