GIRO DO HORIZONTE – IRÃO – por Pedro de Pezarat Correia

 10550902_MvCyL[1]As negociações com o Irão sobre a energia nuclear encontram dificuldades, mas há conversações e isso, só por si, já é bom. Frente aos negociadores iranianos senta-se o chamado P5+1, ou seja, os 5 membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, por ironia todos potências nucleares e detentores dos maiores arsenais de armas nucleares do planeta, mais a Alemanha, o único que ali, em boa consciência, tem legitimidade para invocar a oposição à proliferação de armas nucleares.

 Dizem os noticiários que estas rondas de conversações têm aproximado os EUA e o Irão. É possível que sim, por ventura não tanto pelo problema do nuclear em si, mas pela posição geopolítica do Irão que, face ao emaranhado de problemas e contradições em que Washington se envolveu naquela região se torna cada vez mais, para a hiperpotência global, um interlocutor incontornável. O Irão é central num contexto em que no Iraque os EUA colocaram o poder nas mãos dos seus parceiros xiitas, em que na Síria os EUA foram salvos de um atolamento no pântano pela mão dos seus apoiantes russos, em que são inimigos declarados da Al Qaeda que os EUA se encarregaram de atrair à região, em que no vizinho Afeganistão os EUA já só procuram uma saída airosa. Entretanto Washington sabe que são os seus dois maiores aliados regionais, Israel e Arábia Saudita, que numa coligação contra-natura procuram sabotar as conversações em curso e conspiram para levar a cabo ataques contra o Irão.

 Neste complexo xadrez diplomático e geoestratégico destaca-se a posição ambígua da França de François Hollande e Laurent Fabius, que já aparecera disposta a liderar uma agressão à Síria e agora, com os aplausos de Israel, se perfila como o falcão do Grupo P5+1 contra o Irão. O Expresso de 16 de Novembro dá conta da forma como a posição francesa é lida no Irão. Paris deteta sinais de tensão entre os EUA e a Arábia Saudita e tenta explorá-los para conquistar vantagens no mercado petrolífero da região. Afinal, para além do problema nuclear, está em jogo o grande, o maior, o mais persistente fator geoestratégico do Golfo Pérsico, o petróleo.

A posição de Israel também não é de estranhar. Israel sabe que, se for encontrado um acordo com o Irão sobre a questão da energia nuclear, inevitavelmente, mais tarde ou mais cedo, colocar-se-á o problema da arma nuclear israelita. A situação de exceção de Israel como potência nuclear clandestina, não assumida, tolerada pelo ocidente, constitui um perturbador inultrapassável no regular funcionamento do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares. É matéria que não poderá deixar de vir a ser equacionada e por isso Israel não está nada interessado em que as atuais negociações se concluam com sucesso.

A redefinição do mosaico político do Médio Oriente, a contento de Israel, deu no que deu com o falhanço estrondoso da estratégia de George W. Bush e da sua equipa de fanáticos radicais, que só veio a beneficiar os objetivos de Teerão e Moscovo, o primeiro favorecido nas aspirações a potência regional e o segundo recebendo de braços abertos a oportunidade para recuperar o seu estatuto de grande potência indispensável no quadro global.

A chamada “primavera árabe”, vindo a somar-se e até, de certo modo, na sequência da agressão ao Iraque, encarregou-se de demonstrar que nós, no ocidente, temos aprendido muito pouco com os nossos próprios erros.

18 de Novembro de 2013

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