EDITORIAL – do sonho de uns ao pesadelo do outros e vice-versa

Imagem225 de Novembro, é uma data que as pessoas de esquerda  não podem festejar – em 1975 foi nesse dia que terminou o sonho, a esperança,  que começara em 25 de Abril do ano anterior. Na verdade, os que queríamos transformar Portugal numa democracia plena éramos percentualmente poucos. Nas legislativas de 25 de Abril de 1975, viu-se que a maioria do eleitorado votou PSD e PS. E, apesar de minoritários, ainda agravámos a situação e reduzimos as possibilidades de sucesso, pois estávamos profundamente divididos. A esquerda, mobilizava grandes multidões e isso dava a ideia de que éramos muitos – quem está num pequeno pinhal rodeado por uma dúzia de árvores, tem a sensação de que está numa imensa floresta.

As eleições legislativas de Abril de 1975, tinham sido um aviso. Com uma participação muito elevada – 91,66% dos eleitores recenseados – a rondar os seis milhões, o Partido Socialista obteve cerca de 38% dos votos expressos, o PPD ultrapassou os 26% e o CDS rondou os 8%. À esquerda, o Partido Comunista e o MDP somados, não atingiram os 17%, e na esquerda mais radical, a FSP ultrapassou ligeiramente o 1% e o MES não foi além de 0,79%. Todos os outros partidos tiveram votações irrelevantes. E no entanto, nas manifestações e comícios, concentrando gente com grande capacidade de militância, davam a sensação de que a tomada do poder apenas dependia da direcção do grupúsculo. Num livrinho editado por uma dessas organizações, maoista, salvo erro, diz-se que, numa sala pejada de gente entusiasmada, o líder carismático terminou a sua intervenção sob «uma tempestade de aplausos». Uma organização que a nível nacional talvez não atingisse os mil militantes, extrapolava para o seu pequeno universo a grandeza da Praça da Paz Celestial.

E os militares? Estavam também divididos. As distorções observadas entre a massa política da população civil, reflectiam-se no seio do MFA. O 25 de Novembro começou em 19 de Julho, com o discurso de Mário Soares, na Fonte Luminosa, perante uma multidão que, consoante as estimativas, esteve entre as 300 mil e o meio milhão de pessoas. Uma das palavras de ordem com que o discurso foi frequentemente interrompido, dizia «O povo, não está, com o MFA!». Em 25 de Novembro, com o suporte político do Grupo dos 9 e interpretando a vontade da maioria dos cidadãos, uma parte das Forças Armadas, deu corpo a essa vontade e interrompeu o sonho de um Portugal verdadeiramente democrático. Mário Soares vai dizendo hoje coisas muito acertadas, quanto ao presidente da República e ao governo que temos. Mas foi ele, que em nome de um conceito de democracia aberto às liberdades, agitando o fantasma do estalinismo, classificando os pecepistas como «paranóicos», abriu caminho a esta gente cuja genealogia tem raízes no partido único do Estado Novo. O espírito «liberal» decorrente dessa abertura vai ao ponto de se permitir que um cidadão como Cavaco Silva, com um passado político duvidoso, tenha ascendido à mais elevada magistratura da Nação.

Em 25 de Novembro de 1975, foram abertas as portas à corrupção e a um conceito de democracia que resulta numa sociedade profundamente injusta, assimétrica – anti-democrática. Para fugir do fantasma de Estaline, entregou-se a chave aos poderes financeiros e permitiu-se a criação de uma oligarquia mafiosa. As culpas? Todos actuámos mal. Uns por inexperiência, outros por terem recorrido à experiência de peritos como Frank Carlucci…

1 Comment

  1. Nos dias que correm temos a infelicidade de conhecer as consequências dramáticas, porém inevitáveis, desse 25 de Novembro. Dele só pode ficar uma triste memória bem ao contrário daquela – perene e entusiástica – deixada pelo 25 de Abril. Com esse golpe militar profundamente reaccionário – uma encomenda dos ianques – abriram-se as portas a todos os atropelos que, ano após ano, por fim, tantos têm sido os recuos da independência nacional, conseguiram tornar Portugal numa colónia do IVºReich/União Europeia. A Democracia, para ter um bom rumo não precisava nem do autoritarismo de caserna, nem duma submissão político-militar às ordens de qualquer dos lados que, pelas suas políticas antidemocráticas, disputavam o destino do mundo. Quando Portugal acabava de dar ao mundo alguns novos mundos e, como assim, ganhava uma posição destacadíssima no concerto dos Povos de todos os Continentes, em vez de querer procurar-se inseri-lo no futuro promissor do mundo dos Não-Alinhados – as emergências económicas já estavam à vista – optou-se, triste cobardia, pela submissão a um dos lados da mafia que queria mandar no mundo e, por fim, sem tino mas com muito oportunismo político, mais outra vez, acabou por sujeitar-se a na nossa História a ter de sentir o peso da pata colonizadora dos continentais europeus Por muito que, hoje em dia, os responsáveis do novembrismo, queiram limpar os seus nomes, fazer esquecer o erro cometido e aparecerem ao lado dos que sofrem não vão conseguir que, no futuro, a História nacional venha a reservar-lhes um papel digno de apreço. CLV.

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