Depois dos poetas angolanos, apresentamos uma antologia de poetas de Moçambique, começando precisamente com
RUI DE NORONHA
( 1909 – 1943 )
SURGE ET AMBULA
Dormes! e o mundo marcha, ó pátria do mistério.
Dormes! e o mundo rola, o mundo vai seguindo…
O progresso caminha ao alto de um hemisfério
e tu dormes no outro o sono teu infindo…
A selva faz de ti sinistro eremitério
onde sozinha, à noite, a fera anda rugindo…
Lança-te o Tempo ao rosto estranho vitupério
e tu, ao Tempo alheia, ó África, dormindo…
Desperta. Já no alto adejam negros corvos
ansiosos de cair e de beber aos sorvos
teu sangue ainda quente, em carne de sonâmbula…
Desperta. O teu dormir já foi mais que terreno…
Ouve a voz do Progresso, este outro Nazareno
que a mão te estende e diz: – África, surge et ambula!
(de “Poesia Africana di Rivolta”)
Antologiado em várias colectâneas, designadamente em “Letteratura Negra. La Poesia” (Roma, 1961), e “Poesia Africana di Rivolta” (1969). Os seus poemas foram recolhidos, em parte, no volume “Sonetos” (s/d).