Novas Viagens na Minha Terra – Série II – Capítulo 145 – por Manuela Degerine

Jette

O casal alemão chega ao albergue por volta das cinco horas. Ela coxeia… Surgiu-lhe no segundo dia de caminhada a tendinite que no ano passadoImagem1 eu também tive, a qual não se manifesta nas subidas mas é dolorosa em todas as outras situações, por isso avançam muito lentamente e o marido transporta as duas mochilas. Chamo-lhes – cá para mim – os “eleitores de Frau Merkel”. Comem massa com um molho que, entre corantes e conservantes, talvez tenha tomate, gastam euro e meio nas duas refeições, outro tanto – extravagância sumptuária – no pacote de vinho cujo resto oferecem aos inocentes. Assistiram a uma procissão de lagartas do pinheiro; eu encontrei um melro, uma cobra, um sapo e duas toupeiras: espalmados. (Vou fotografando estas vítimas da violência rodoviária.)Imagem2

Franz e Mika, como o casal canadiano, como vários outros que desde Valença tenho encontrado, aqui dormem igualmente, vai-se portanto constituindo o grupo que cada dia se há de ultrapassar no Caminho e cada tarde se reunirá no albergue.

Já me predisponho a dormir, estendida no beliche, virada para a janela, admirando os blocos de granito, vendo o azul empalidecer no céu, quando outra peregrina se instala ao meu lado. Reparo que tem algo de singular nos gestos, no discurso, na aparência… Alta, um metro e setenta e cinco, o cabelo todo branco e um rosto sem rugas. Começamos a conversar. Prosseguimos a conversa na sala para não indispor quem dorme: conversamos até às dez horas.

Jette é filha de uma espanhola e de um dinamarquês, viveu vários anos no Brasil durante a adolescência e fala um português quase sem sotaque. Em Portugal, por querer seguir pela beira-mar, não palmilhou o itinerário sinalizado: avançou de maneira descontínua e fazendo encontros insólitos. Uma mulher exclama:

– Então vai a Santiago e não foi a Fátima?!

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