
Desnudos, Padre Inocêncio e Aurora estão deitados na cama. Ela pergunta:
– E o sacristão?
– Está na horta, tem lá muito que fazer.
– Quanto tempo é que ele demora?
– Pelo menos mais uma hora.
– Então ainda temos tempo para dar mais uma.
Aurora atira-se ao Padre, beijos, suspiros, erotismo, ela com um orgasmo gritado. Diz o padre:
– Andas sempre com fome.
– De ti tenho sempre fome, és o meu homem.
– O teu homem é o Joaquim.
– Esse é o meu marido, o meu homem és tu.
– Aurora, que distinção é essa?
– O Joaquim, coitado, raramente se explica na cama. Nem sei como ele conseguiu tirar-me os três vinténs
– Que linguagem ordinária…
– Mas verdadeira. Só por isso eu digo que a minha Isabel é tua filha.
Padre Inocêncio levanta-se e começa a vestir-se.
– E eu gosto da garota como se fosse realmente minha filha.
– E é, já te disse que é.
Aurora levanta-se e começa a vestir-se.
– Aurora, isto é tudo um pecado! E mortal, mortal…
– Lá será… Mas como Deus nos fez assim, Ele lá sabe como somos e acabaremos por ser perdoados.
– Isso dizes tu, porque és apenas uma mulher que sucumbiu à tentação.
– E tu é apenas um homem que sucumbiu à tentação.
– Mas sacerdote, sacerdote! Já te esqueceste? Já viste a dimensão do meu pecado?
E pelos séculos afora, a Igreja sujou com o Pecado o desejo, o amor e a natureza inteira.
É isso, Fernando Correia da Silva, a carne não é fraca, a carne é a nossa força.
abraço
Rachel Gutiérrez
[image: Imagem intercalada 1][image: Imagem intercalada 2][image: Imagem intercalada 4]MARIA