EDITORIAL – SIMBIOSES

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Simbiose é um substantivo feminino que tipifica o fenómeno de associação de dois ou mais seres de diferentes espécies, mas que vivem conjuntamente, com vantagens recíprocas e são caracterizados como um só organismo: o líquen é a simbiose de uma alga e de um cogumelo; a protecção de Cavaco Silva ao governo de Passos Coelho é a simbiose de um político de origem duvidosa com outro político de origem que nem dúvidas permite alimentar.

Basílio Horta, um dos políticos que a democracia herdou da ditadura, fundador com Freitas do Amaral do CDS e actualmente autarca do Município de Sintra em representação do Partido Socialista, veio numa entrevista ao Expresso criticar o discurso de Cavaco Silva «Vi um Presidente da República completamente enfeudado ao Governo. O discurso dele é de Governo, ele é tributário e refém do Governo. E um Presidente da República refém, seja do que for, nunca é bom. Nomeadamente, num momento tão grave para Portugal». É verdade.

Mas subsiste aqui um equívoco que a direita sempre explorou e o centro, bem como aquilo a que se convencionou chamar «esquerda moderada», nunca dilucidou – determinar quais são os interesses de Portugal – estamos a falar dos interesses de Ricardo Salgado, de Belmiro de Azevedo, de ….Ulrich, ou estamos a falar dos interesses da grande massa de trabalhadores, contribuintes – estamos a falar dos «donos de Portugal» ou estamos a falar do povo português? A resposta para os neo-liberais é simples – os interesses de Portugal são os de todos – empreendedores e trabalhadores. E nesta óptica, Cavaco Silva tem toda a razão – e não está refém do governo – está a proteger um executivo que protege os seus interesses – é uma simbiose.

Se quiséssemos (se pudéssemos) adoptar a perspectiva do interesse da imensa maioria dos portugueses, não teríamos na política gente herdada do salazarismo, nem colaboradores da polícia política poderiam ter chegado onde chegaram. No mundo da política as simbioses trabalham a favor de equilíbrios que fazem com que a «ordem natural das coisas» prevaleça.

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